2023, um ano de teste: a gama de cenários macroeconômicos será maior ou menor?

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A volatilidade causada por fatores macroeconômicos e geopolíticos vem dominando o panorama dos negócios ultimamente e testando as equipes de gestão de maneiras que antes pareciam inimagináveis. No entanto, no início de 2023, os preços da energia saíram do pico, a inflação deixou de acelerar, e o crescimento econômico parece estar se mantendo. Devido a esses sinais positivos, é tentador esperar uma gama menor de potenciais resultados macro e, como em qualquer ano novo, almejar um novo começo. Vemos 2023 como um teste para saber se agora um novo começo é possível.

Com as tensões geopolíticas elevadas, os principais desequilíbrios entre oferta e demanda não resolvidos e as taxas de juros em trajetória ascendente, os líderes empresariais podem estar refletindo se as comparações com a década de 1970 são apropriadas ou se o caminho a seguir se assemelhará a ciclos econômicos mais familiares. A grande questão para os líderes é: será que as empresas voltarão a um mundo semelhante ao anterior à pandemia, com incertezas 2 × 2, ou será que houve uma transição permanente para um mundo 3 × 3, no qual as incertezas se multiplicam (Quadro 1)?

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Para ajudar os líderes a responder a essa pergunta, a McKinsey desenvolveu uma ampla gama de cenários macroeconômicos para 2023 e depois. Os cenários levam em conta resultados de longo prazo favoráveis e não tão favoráveis e descrevem as escolhas para o prazo mais curto que determinarão, em grande medida, qual caminho a economia global poderá acabar tomando. Os líderes devem decidir quais medidas tomar, independentemente de como o panorama se mostre, e quais riscos calculados devem correr como meio de levar suas empresas adiante com ousadia. Alguns podem concluir que seu modelo de negócios e seus movimentos estratégicos permaneceriam praticamente os mesmos para todos os resultados macro que consideram plausíveis, enquanto outros podem ver oportunidades e riscos diferentes.

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Para contextualizar os cenários, começamos por nossas visões a respeito das principais questões de 2022: inflação e desarranjos no mercado de trabalho. Acreditamos que é importante expor os fatos sobre esses assuntos, que até agora não foram objeto de consenso, para que os líderes possam conceber soluções duradouras.1How North American natural gas could alleviate the global energy crisis”, McKinsey, 16 de novembro de 2022; como a Alemanha pode desenvolver uma oferta de energia segura e sustentável até 2025: “Electricity price reduction to competitive level feasible by 2025”, McKinsey, 5 de dezembro de 2022; e nossa perspectiva de longo prazo a respeito da transição energética: Global Energy Perspective 2022, McKinsey, 26 de abril de 2022. Em seguida, mostramos os novos cenários macroeconômicos da McKinsey, com foco nos Estados Unidos e na zona do euro.2

Descobrimos que os melhores líderes e empresas que estão se orientando em meio à volatilidade atual são prudentes na gestão dos aspectos negativos e são ambiciosos no proveito dos aspectos positivos. Esperamos que esses líderes possam usar estes cenários para tomar decisões práticas com vistas a atingir seus objetivos.

Entendendo as manchetes econômicas de 2022: inflação e mercados de trabalho

Olhando para um ano atrás, o mundo estava passando por inúmeros testes. Em janeiro de 2022, a variante ômicron da COVID-19 vinha se espalhando rapidamente. As equipes de logística continuavam enfrentando dificuldades com as cadeias de suprimentos fraturadas em meio a uma demanda recorde.3 Os preços das commodities estavam em alta de 30%, os preços globais do transporte de contêineres haviam se multiplicado por quase dez, e os preços do transporte de carga em terra haviam disparado.4 Os desequilíbrios no mercado de trabalho, mais agudos nos Estados Unidos e no Reino Unido, elevaram os salários com velocidade até duas vezes maior do que no período anterior à COVID-19. A inflação estava atingindo o que na época pareciam ser as maiores altas em uma geração.5

Mesmo assim, havia a esperança de que as piores consequências da pandemia já tivessem passado. Foi quando, em fevereiro, a esperança deu lugar novamente à ansiedade com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Muitas empresas se juntaram ao coro de condenação,6 e a guerra que se seguiu desencadeou a pior crise humanitária na Europa desde a 2ª Guerra Mundial, além de uma crise alimentar e energética global7 e da aceleração das disrupções negativas já em curso.

Como o mundo chegou à inflação mais alta em uma geração?

De março de 2020 a novembro de 2022, os preços ao consumidor subiram quase 16% nos Estados Unidos, 15% na zona do euro e no Reino Unido, 16% na Índia e 21% no Brasil.8 Esses aumentos são duas a três vezes maiores do que se esperaria com base nos resultados pré-COVID-19. Mesmo no Japão, que vem combatendo pressões deflacionárias há décadas, os preços haviam subido 3,8% nos 12 meses anteriores a novembro de 2022, o maior índice de inflação mensal registrado em mais de 40 anos.9

De março de 2020 a novembro de 2022, os preços ao consumidor subiram quase 16% nos Estados Unidos e 15% na zona do euro e no Reino Unido.

Muitas visões concorrentes foram apresentadas sobre as causas da inflação atual e os motivos de sua persistência, mas achamos que os fatos são muito mais simples do que o debate sugere (vide box “E a ‘impressão de dinheiro’?”). Trabalhos recentes de economistas da Brookings Institution e do Banco da Reserva Federal de São Francisco oferecem um quadro analítico útil para explicar as causas da inflação dos preços ao consumidor dos EUA, trabalhos estes que adaptamos aqui.10 Além da inflação anual normal de cerca de 2%, devem ser considerados os três fatores a seguir:

  • O impacto direto de choques de commodities e desarranjos nas cadeias de suprimentos: disrupções nos mercados de petróleo, gás e alimentos básicos e incompatibilidades entre a oferta e a demanda (por exemplo, quando a escassez de semicondutores fez disparar os preços dos carros usados).
  • O repasse dos custos mais altos de materiais das empresas: os choques de commodities e os desarranjos nas cadeias de suprimentos desaceleraram a produção e aumentaram os custos de materiais das empresas.
  • O repasse dos custos salariais mais altos: o choque nos mercados de trabalho levou à duplicação do aumento salarial à medida que as empresas competiam por trabalhadores escassos para atender à alta da demanda.

A inflação dos últimos três anos mostra os fatores acima em ação. Em 2020, o colapso econômico, os programas de estímulo inéditos e a surpreendente recuperação em forma de V deixaram a inflação dos EUA em cerca de 2%. Então, em 2021, a inflação começou a ganhar força à medida que a demanda reprimida pelos confinamentos da pandemia se chocava com os desarranjos no mercado de commodities e nas cadeias de suprimentos e as empresas começavam a aumentar os preços. Os preços da energia ainda estavam elevados quando as preocupações com uma invasão da Ucrânia pela Rússia os aumentaram ainda mais no final de 2021, acabando por levar a inflação dos EUA a quase 9%. Em 2022, esses fatores foram agravados e, por fim, superados pelas pressões salariais causadas pela demanda, que passaram a ser o fator dominante da inflação (Quadro 2) – e as expectativas de inflação aumentaram.

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Se a inflação dos EUA tivesse aumentado a cada ano em sintonia com as expectativas anuais pré-pandemia, de 2,2%,11 o nível dos preços teria ficado 6,2% mais alto até o final de setembro de 2022. Só que não foi o caso. O aumento total do nível de preços desde janeiro de 2020 foi de 14,9%. Dois terços desses 8,7 pontos percentuais adicionais podem ser atribuídos, direta ou indiretamente, a choques de commodities e nas cadeias de suprimentos (Quadro 3). O terço restante foi, em grande parte, resultado de um aumento da demanda e uma mudança em sua composição, os quais superaram a capacidade das empresas de produzir e os aumentos de salários e preços que se seguiram. Os programas de estímulo, as poupanças acumuladas e a política monetária acomodatícia contribuíram para essa demanda.

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O caso da zona do euro começa da mesma forma, com a inflação subindo devido aos choques de commodities e nas cadeias de suprimentos ocorridos no período da pandemia. Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, as autoridades e os líderes empresariais da zona do euro conseguiram manter os trabalhadores ligados a seu emprego por meio dos programas de licenças existentes e de canais de subsídios trabalhistas que reduziram as disrupções no mercado de trabalho e a inflação dos salários.12 Todavia, o impacto inflacionário da invasão da Ucrânia foi muito maior na zona do euro do que nos Estados Unidos, elevando drasticamente os preços da energia em todo o continente. Por conseguinte, a inflação da zona euro tem sido causada quase exclusivamente pelos impactos diretos e persistentes dos choques de oferta de energia, aliados às consequências das disrupções nas cadeias de suprimentos, e pelo repasse desses custos pelas empresas.

O que aconteceu com o mercado de trabalho dos EUA?

Em março e abril de 2020, as paralisações relacionadas à pandemia fizeram com que as empresas do setor privado dos EUA fechassem suas portas em massa, eliminando mais de 21 milhões de empregos.13 Ajustado em função do tamanho da economia, esse grau de perda de empregos só foi superado durante a Grande Depressão.14

Trabalhadores e empresas dos EUA ainda estão lidando com as consequências disso quase três anos depois. Um dos resultados mais visíveis – do ponto de vista dos empregadores – tem sido a dificuldade de contratar. Nos primeiros dez meses de 2022, a taxa de desemprego foi de 3,7%, em média, e o total de ofertas de emprego no setor privado registrou uma média de 10,1 milhões por mês. Compare esses números com os de vários momentos de 2019 e do início de 2020, quando as taxas de desemprego eram semelhantes, mas o total de ofertas de emprego no setor privado era de 6,4 milhões por mês, em média.

É o enigma dos empregos da era pós-pandemia: com 3,7 milhões de ofertas adicionais por mês, por que o número de vagas está 60% maior do que antes da pandemia?

Muitos analistas enfocam o fato de que menos pessoas entraram na força de trabalho do que se esperava,15 um déficit que, pelas nossas estimativas, é de aproximadamente 1,6 milhão. A menor participação contribuiu de fato para o aperto do mercado de trabalho, mas não explica por que há 3,7 milhões de ofertas de emprego adicionais por mês. Uma análise mais aprofundada das faixas etárias, dos tipos de emprego e do comportamento dos funcionários revela três causas adicionais (Quadro 4).

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Em primeiro lugar, a população dos EUA está envelhecendo rapidamente; assim, parte do declínio da participação no mercado de trabalho se deve a um comportamento de aposentadoria totalmente normal. A faixa etária de 16 a 64 anos aumentou em 1,5 milhão de pessoas entre janeiro e novembro; no entanto, no mesmo período, 3,5 milhões de pessoas da geração do pós-guerra atingiram a idade de 65 anos. Em um ano típico, 80% dos que completam 65 anos se aposentam, e cerca de 26% dos que têm entre 16 e 64 anos não entram na força de trabalho.16 Os padrões normais de comportamento explicariam, portanto, por que, dentro dessas faixas etárias, 2,8 milhões de pessoas se aposentaram e 400 mil outras não trabalharam.

Em segundo lugar, há indícios de uma incompatibilidade duradoura entre empregos e habilidades17Navigating the labor mismatch in US logistics and supply chains”, McKinsey, 10 de dezembro de 2021. na esteira das “demissões” de 2020. Os trabalhadores não voltaram simplesmente ao mesmo emprego quando a pandemia abrandou. Em vez disso, ocorreram mudanças na demanda em diversos setores e regiões, e os trabalhadores se mudaram, perderam ou adquiriram habilidades, ou então assumiram um emprego novo e diferente. Pelas nossas estimativas, em 2022, os empregadores estavam levando, em média, um tempo 40% maior para preencher uma vaga do que em 2019.18 Em novembro de 2022, a recuperação diferencial do emprego nos vários setores mudou o mix de empregos, pois os trabalhadores encontraram trabalho em setores em crescimento (Quadro 5). A persistência do excesso de vagas demonstra que continua havendo um descompasso entre as habilidades e as regiões geográficas.

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O terceiro motivo da escassez de mão de obra é o fato de mais trabalhadores estarem reavaliando o que querem do emprego – e da vida. Os funcionários vêm saindo de empregos tradicionais para assumir funções temporárias, esporádicas ou de meio período, ou então estão abrindo negócio próprio. Alguns estão desistindo por causa das demandas da vida – precisam cuidar de crianças ou idosos. Muitos continuam com problemas de saúde. Alguns trabalhadores estão dispostos a fazer uma pausa e se sentem confiantes de que encontrarão outro emprego quando quiserem.

Há indícios de uma incompatibilidade duradoura entre empregos e habilidades na esteira das “demissões” de 2020. Os trabalhadores não voltaram simplesmente ao mesmo emprego quando a pandemia abrandou.

Nenhum desses três fatores será equacionado de maneira fácil ou rápida. Mas eles são conhecidos, e os líderes empresariais podem mudar sua abordagem com relação à equação dos talentos.

Cenários do que pode acontecer a seguir

Quando veio a pandemia, as principais fontes de incerteza para pessoas, empresas e governos foram o impacto da disseminação do vírus e a eficácia das reações. As outras preocupações simplesmente tiveram de esperar. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o foco foi a incerteza quanto à duração e escala da disrupção, das sanções e das reações em termos de políticas.

Hoje, um conjunto de forças complexo e variado está possivelmente inaugurando uma nova era com múltiplas fontes de risco, oportunidade e transformação potencial. Os líderes devem avaliar como a ordem mundial, a tecnologia, a demografia, a energia, os recursos e o capital evoluirão e afetarão sua empresa (vide box “A ‘beira’ e o quadro de cenários econômicos da McKinsey”). Tendo essas forças em mente, há duas dimensões principais que definem o novo quadro de cenários da McKinsey, como mostra o Quadro 1.

  • A primeira dimensão é o estado da cooperação internacional e do equilíbrio estrutural no longo prazo. Essa dimensão representa a medida na qual a oferta de materiais e de bens manufaturados e as pessoas, dados e capital de que estes necessitam são capazes de satisfazer a demanda global a preços acessíveis. Ela é fortemente influenciada pelas regulamentações locais que determinam as reações da oferta, bem como pelas instituições e quadros que regem as relações diplomáticas e as trocas internacionais. Um exemplo importante de uma questão que faz parte dessa dimensão é a eficácia com que o mundo é capaz de estabelecer as regulamentações e os relacionamentos necessários para realizar uma transição energética economicamente viável.
  • A segunda dimensão é o estado da política monetária e o nível de apoio fiscal no curto prazo. Essa dimensão representa a medida na qual os gastos públicos e os incentivos de mercado são bem direcionados. Também representa a influência dos bancos centrais sobre a disponibilidade de crédito e as condições financeiras gerais. É fortemente afetada pela dinâmica política nacional. Um bom exemplo de uma questão que faz parte desta dimensão é a eficácia com que as medidas atuais dos bancos centrais são capazes de controlar as pressões inflacionárias.

A primeira dimensão é o estado da cooperação internacional e do equilíbrio estrutural no longo prazo. A segunda dimensão é o estado da política monetária e o nível de apoio fiscal no curto prazo.

A variação e a interação dessas duas dimensões determinam as escolhas feitas por pessoas, empresas e organizações sem fins lucrativos (inclusive organizações não governamentais [ONGs] e universidades) com relação a gastar, investir e buscar soluções inovadoras. A interação entre as dimensões determinará, em grande medida, a gama de resultados macroeconômicos nos novos cenários globais da McKinsey, como a rapidez de crescimento da produtividade, dos salários e dos lucros, o aumento ou a diminuição da participação na força de trabalho, os gastos dos consumidores e os investimentos das empresas, o patamar que a inflação pode atingir e a viabilidade econômica da transição energética.

Os dois cenários a seguir, denominados A1 e C2, descrevem a gama de resultados que os CEOs e suas equipes executivas provavelmente precisarão levar em conta ao entrarem em 2023. Um terceiro cenário, C3, retrata um ponto negativo preocupante que remete à experiência econômica da década de 1970 (vide box “Cenário C3: recessão profunda, limitações ao crescimento no longo prazo e mudança de regime significativa na gestão da inflação”). Um cômputo recente de previsões econômicas mostra uma ampla gama de estimativas de crescimento do PIB para 2023, de uma baixa de –1,4% a uma alta de 1,2% nos Estados Unidos e de –0,8% a 0,8% na zona do euro.19 Os cenários da McKinsey ilustram essa gama e incluem riscos adicionais que devem ser levados em consideração.

Cenário A1: ‘pouso suave’, acelerando para a prosperidade com inflação na meta

No cenário A1, pessoas, empresas e governos renovam seu compromisso de acelerar a cooperação global. As sociedades se comprometem a absorver os custos de garantir a resiliência, o acesso confiável a setores críticos, a vitalidade das economias e comunidades locais e a promover regulamentações que expandam a oferta economicamente viável. O conflito na Ucrânia e outras tensões internacionais não se intensificam e talvez até comecem a abrandar.

As autoridades econômicas da zona do euro e dos Estados Unidos criam incentivos para aumentar investimentos dos setores público e privado que ajudem a resolver os desequilíbrios entre a oferta e a demanda de energia no curto prazo. Ações coordenadas pelos bancos centrais conduzem o ano de 2023 sem recessão. A inflação começa a retornar às metas de 2% dos bancos centrais (Quadro 6), e o aumento real do PIB acelera para aproximadamente 3% com a volta do crescimento.

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Juntos, o compromisso com a cooperação global e as escolhas eficazes de política econômica geram incentivos de longo prazo para o investimento e a inovação e promovem um forte aumento da produtividade e a expansão da oferta. Isso ajuda a combater as adversidades demográficas das sociedades envelhecidas e permite uma transição energética economicamente viável. Após 2025, surge uma sensação de prosperidade comum, à medida que a economia dos EUA registra mais de 3% de crescimento real anual do PIB, a zona do euro mantém um crescimento bem superior a 2%, e a renda proveniente desse crescimento beneficia stakeholders de toda a sociedade (Quadros 7 e 8).

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Cenário C2: recessão profunda seguida de crescimento anêmico com inflação mais alta arraigada

No cenário C2, pessoas, empresas e governos determinam que os custos da cooperação global superam os benefícios. Os fluxos inter-regionais ficam estagnados em meio a desacordos quanto às novas regras para abordar o efeito da terceirização nas economias locais, as vulnerabilidades da dependência concentrada de matérias-primas e a falta de resiliência do sistema. O conflito na Ucrânia continua a intensificar essas vulnerabilidades.

Nesse panorama internacional mais difícil, os bancos centrais da zona do euro e dos Estados Unidos tomam medidas mais ousadas contra a inflação, levando essas economias à recessão em 2023. Apesar da desaceleração intencional, a inflação cai apenas gradualmente, obrigando os bancos centrais a abandonar suas metas de 2% para evitar uma retração prolongada. A inflação se mantém em 3,5% ou mais, enquanto o crescimento no curto prazo se recupera para cerca de 2% nos Estados Unidos e na zona do euro (Quadro 9).

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A cooperação econômica global estagnada, aliada a escolhas de políticas econômicas mais restritivas, gera fracos incentivos de longo prazo e diminui as taxas de investimento e inovação. Isso enfraquece o aumento da produtividade e dificulta a produção da tecnologia necessária a uma transição energética economicamente viável. Nesse cenário, o investimento em tecnologia energética e em energias renováveis é insuficiente para escalar as novas tecnologias, gerando mais dependência de combustíveis fósseis, de modo que o preço global do barril de petróleo chega a US$ 130 (Quadro 10). O crescimento lento após 2025 dificulta o cumprimento da promessa de inclusão. A economia dos EUA registra um crescimento anual real do PIB de aproximadamente 1,7%, apenas, enquanto o crescimento na zona do euro fica estagnado abaixo de 1%.

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As perspectivas baseadas em cenários ajudam a desenvolver insights estratégicos, compromisso, execução e resiliência

As equipes de gestão podem prosperar, em vez de simplesmente sobreviver nesse panorama volátil, ao desenvolverem resiliência e ousadia em sua organização (vide box “Aceitar a incerteza, incorporar a resiliência e possibilitar o crescimento”). Os líderes que são prudentes e, ao mesmo tempo, ousados aprimoram seu desempenho organizacional de três maneiras: sendo mais aguçados nos insights, reforçando seu compromisso e acelerando sua execução.

Os líderes empresariais podem usar os cenários para aguçar os insights, analisando os fatores de sucesso de longo prazo antes de mirarem o curto prazo. Os novos cenários da McKinsey mostram uma ampla gama de possíveis taxas de crescimento do PIB para 2025–2030, e os líderes precisam entender se os resultados alternativos de crescimento requerem uma mudança fundamental com relação a como e onde eles escolhem concorrer. Veja dois exemplos do mundo real, sendo que o primeiro destaca uma empresa cuja estratégia depende dos resultados macroeconômicos e o segundo demonstra o oposto.

  • Uma operadora de terminais de transporte de contêineres está saindo da alta dos volumes de contêineres causada pela pandemia, alta esta que gerou desafios operacionais nunca antes vistos, juntamente com lucros recordes. Esse volume recorde não se manterá, mas há uma questão fundamental sobre se a operadora de terminais verá um aumento permanente do ímpeto dos volumes em relação à desaceleração registrada desde a crise financeira. A expectativa da situação futura dos volumes será fundamental para determinar a estratégia para 2023 e depois.
  • Um fabricante de polietileno está enfrentando a perspectiva de uma transição energética acelerada, da instituição de impostos sobre o carbono e da crescente demanda de produtos ecológicos por parte do consumidor. Qual será a força dessa demanda é certamente uma questão, mas o verdadeiro desafio estratégico é que as tecnologias fundamentais para concorrer neste novo mundo ainda estão nas bancadas de pesquisa e desenvolvimento. A questão fundamental é se a equipe executiva e seus stakeholders têm real convicção de que os plásticos ecológicos são o futuro.

O crescimento dos setores individuais é importante e será influenciado pelo PIB geral, mas os movimentos que uma empresa decide fazer e suas maneiras de reagir às tendências fazem a maior diferença no desempenho.20 Esses cenários podem ajudar a propiciar uma antevisão capaz de aumentar as chances de sucesso. Trabalhar com esses cenários também pode ajudar as equipes executivas a desenvolver uma convicção comum com relação a seu panorama operacional e concorrencial e, consequentemente, a agir de forma mais decidida quando chegar o momento de se comprometer, ter ousadia e acelerar a execução, ou então de se conter, manter a agilidade e preservar a opcionalidade.

Acreditamos que o empenho para aumentar o compromisso e a resiliência no que concerne aos cenários e para escalar a execução deve ser planejado em uma inciativa distinta que seja subordinada diretamente ao CEO e que evite deliberadamente causar disrupção nas operações atuais. Essa equipe de planejamento antecipado também deve avaliar que nova infraestrutura e que pessoas podem ser necessárias para atuar com relação a vários cenários em processos de negócios existentes, reconhecendo que as principais capacidades (por exemplo, análise e planejamento financeiro) podem demandar recursos adicionais. Com a priorização correta, o compromisso da liderança e as mudanças nos incentivos organizacionais, as novas iniciativas de planejamento antecipado poderão ser executadas com confiança e rapidez.


Muitos líderes empresariais veem 2023 como uma continuação do panorama mais desafiador já enfrentado pelas equipes de gestão – e por bons motivos. Os cenários que apresentamos podem ajudar a lhe dar um insight sobre a variedade de panoramas operacionais que você poderá enfrentar, as oportunidades e riscos dos compromissos assumidos e onde você precisa de disciplina e força para acelerar a execução e criar resiliência. Eles podem ajudá-lo a definir as suas principais prioridades e prosperar em um mundo 3 × 3, no qual as incertezas se multiplicam.

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