O estado da inteligência artificial em 2023: o ano do crescimento explosivo da IA Generativa

A mais recente pesquisa da McKinsey sobre o atual estado da inteligência artificial confirma o crescimento explosivo das ferramentas de IA generativa. Menos de um ano após o lançamento de muitas dessas ferramentas, um terço dos entrevistados afirma que suas organizações já estão utilizando a GenAI regularmente em pelo menos uma função de negócio. 

Em meio aos avanços recentes, a inteligência artificial deixou de ser um tópico relegado às equipes de tecnologia para tornar-se foco, também, de líderes: quase um quarto das lideranças C-level entrevistadas afirma que já utiliza pessoalmente ferramentas de IA generativa no trabalho, e mais de um quarto dos entrevistados de empresas que utilizam inteligência artificial afirmam que a GenAI já está na agenda de seus Conselhos. Além disso, 40% dos entrevistados afirmam que suas organizações aumentarão os investimentos em inteligência artificial motivadas pelos avanços da GenAI. A pesquisa mostra, ainda, que no tema da gestão dos riscos associados à IA generativa, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Menos da metade dos entrevistados afirma que suas organizações estão empreendendo esforços para mitigar até mesmo o risco que consideram o mais relevante – a imprecisão.

As organizações que já haviam incorporado capacidades de inteligência artificial foram as primeiras a explorar o potencial da GenAI. E aquelas que estão extraindo máximo valor das capacidades mais tradicionais de IA – um grupo que chamamos “alta performance em IA” – já estão ultrapassando as demais na adoção de ferramentas de GenAI1.

Espera-se que as disrupções provocadas pela IA generativa sejam substanciais, com os entrevistados prevendo mudanças significativas na força de trabalho. A expectativa é de que haja redução de equipes em certas áreas acompanhada de grandes esforços de requalificação e recapacitação de talentos. E, embora a utilização da GenAI possa estimular a adoção de outras ferramentas de inteligência artificial, vemos uma variação pouco significativa na adoção dessas tecnologias: a porcentagem de organizações que adotam alguma ferramenta de inteligência artificial mantém-se estável desde 2022 e a adoção permanece concentrada em um pequeno número de funções de negócio.


Sumário

  1. Ainda estamos no início, mas a GenAI já está em toda parte
  2. Empresas líderes já estão à frente em GenAI
  3. O perfil dos talentos de IA está mudando e são esperados efeitos substanciais na força de trabalho 
  4. Com toda a atenção voltada à GenAI, o impacto e o ritmo de adoção da inteligência artificial permanecem estáveis
  5. Sobre a pesquisa

 

1. Ainda estamos no início, mas a GenAI já está em toda parte

As conclusões da pesquisa – realizada em meados de abril de 2023 – mostram que, apesar da ainda incipiente disponibilidade pública da IA generativa, a experimentação de suas ferramentas já é relativamente comum e os entrevistados esperam que as novas capacidades transformem suas áreas de atuação. A GenAI capturou o interesse de todos no mundo dos negócios: pessoas de todas as regiões, setores e níveis hierárquicos já estão utilizando-a no trabalho e fora dele. Setenta e nove por cento dos entrevistados dizem ter tido ao menos algum contato com a IA generativa no trabalho ou fora dele, e 22% afirmam utilizá-la regularmente no trabalho. Embora os diferentes níveis hierárquicos relatem utilizá-la de maneira semelhante, a GenAI é usada de forma mais intensa por aqueles que trabalham no setor de tecnologia, particularmente da América do Norte.

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As organizações, também, estão utilizando a GenAI com mais frequência. Um terço dos entrevistados afirma que suas organizações já a utilizam regularmente em pelo menos uma função de negócio – o que significa que 60% das organizações que relatam ter adotado a inteligência artificial já estão utilizando a IA generativa. Além disso, 40% dessas mesmas organizações afirmam que pretendem investir mais em inteligência artificial como um todo graças à GenAI, e 28% dizem que a utilização da GenAI já está na agenda do Conselho. As funções que mais utilizam essas novas ferramentas são as mesmas que mais utilizam a inteligência artificial de modo geral: marketing e vendas, desenvolvimento de produtos e serviços, e operações de serviços (como atendimento ao cliente e suporte administrativo, por exemplo). Isso sugere que as organizações estão aplicando as novas ferramentas nas áreas em que possam gerar o máximo valor. Nossa pesquisa anterior mostra que essas três áreas, juntamente com engenharia de software, têm potencial de gerar cerca de 75% do valor anual total dos casos de uso da GenAI.

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As expectativas em relação ao impacto da GenAI são altas: três quartos de todos os entrevistados esperam que ela provoque mudanças significativas ou disruptivas em seus setores nos próximos três anos. Aqueles que trabalham nas áreas de tecnologia e serviços financeiros são os que mais esperam mudanças disruptivas da IA generativa. Nossa pesquisa anterior mostra que, embora todos os setores sejam, de fato, suscetíveis a algum grau de disrupção, a intensidade do impacto poderá variar2The economic potential of generative AI: The next productivity frontier,” McKinsey, 14 de Junho de 2023.. Setores mais dependentes do trabalho intelectual tenderão a sofrer mais disrupções – e, potencialmente, extrair mais valor. Embora nossas estimativas apontem que as empresas de tecnologia serão as mais impactadas pela GenAI, agregando um valor equivalente a até 9% da receita global do setor, outras organizações que utilizam recursos de conhecimento - como bancos (até 5%), laboratórios farmacêuticos e, fabricantes de produtos médicos (até 5%) e todo o setor de educação (até 4%) – também poderão sentir efeitos significativos. Por sua vez, setores manufatureiros – como aeroespacial, automotivo e de eletrônica avançada – talvez experimentem efeitos menos disruptivos. Isto contrasta com o impacto de ondas tecnológicas anteriores, que afetaram mais o setor manufatureiro, e está ligado ao fato de a GenAI atuar de forma mais intensa em atividades baseadas na linguagem, e não naquelas que envolvem mais trabalho físico.

 

Muitas organizações ainda não estão resolvendo os riscos potenciais da GenAI

De acordo com a pesquisa, poucas empresas parecem estar totalmente preparadas para o uso generalizado da GenAI – ou, mais precisamente, para os riscos que essas ferramentas podem trazer aos negócios. Apenas 21% dos entrevistados que relataram a adoção de inteligência artificial afirmam que suas organizações têm diretrizes que guiam o uso dessas de ferramentas pelas equipes. E quando perguntados especificamente sobre os riscos envolvidos na adoção da IA generativa, poucos disseram que suas empresas estão mitigando o risco mais citado: a imprecisão. Os entrevistados mencionam esse risco com mais frequência do que questões de cibersegurança e conformidade regulatória (os riscos relacionados à inteligência artificial mais relatados em pesquisas anteriores), mas apenas 32% afirmam estar tentando mitigá-lo, menos do que os 38% que afirmam estar mitigando os riscos de cibersegurança. É curioso notar que este percentual é significativamente inferior ao percentual de entrevistados que, no ano passado, relataram estar mitigando os riscos de cibersegurança ligados à inteligência artificial (51%). De modo geral, tal como ocorreu nos anos anteriores, a maioria dos entrevistados afirma que suas organizações não estão lidando com os riscos da inteligência artificial.

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2. Empresas líderes já estão à frente em GenAI

Os resultados da pesquisa mostram que empresas de alta performance em IA – aquelas em que, segundo os entrevistados, pelo menos 20% do EBIT em 2022 pode ser atribuído à utilização de inteligência artificial – estão entrando de cabeça tanto na GenAI como nas capacidades mais tradicionais da inteligência artificial. Essas organizações de ponta, que extraem valor significativo dessa tecnologia, já estão utilizando a GenAI em mais funções de negócio do que as demais, em especial no desenvolvimento de produtos e serviços, e na gestão de riscos e da cadeia de suprimentos. Se levarmos em conta todas as capacidades da inteligência artificial (incluindo as mais tradicionais de machine learning, automação robótica de processos e chatbots), essas empresas de vanguarda também são muito mais propensas a utilizá-la para desenvolver produtos e serviços, otimizar o ciclo de desenvolvimento de produtos, acrescentar recursos a produtos existentes e criar novos produtos baseados em IA. Essas organizações também utilizam a inteligência artificial com mais frequência do que as demais na modelagem de riscos e em funções de RH, como gestão de desempenho, desenho organizacional e otimização da força de trabalho.

As empresas de alta performance em IA são muito mais propensas a utilizar inteligência artificial no desenvolvimento de produtos e serviços.

Outro diferencial desse grupo de empresas é que seus esforços de GenAI são menos voltados para a redução de custos, que costuma ser prioridade máxima nas demais organizações. Os entrevistados de empresas de alta performance em IA são duas vezes mais propensos a afirmar que o principal objetivo de suas organizações para a GenAI é criar negócios ou fontes de receitas inteiramente novos – e são muito mais propensos a citar aumento de valor das ofertas existentes por meio de novas funcionalidades de inteligência artificial.

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Como vimos em anos anteriores, as organizações de alta performance investem muito mais do que as demais em inteligência artificial: os entrevistados dessas empresas são cinco vezes mais propensos a dizer que elas gastam mais de 20% de seu orçamento de digital em IA – e utilizam mais amplamente os recursos de IA em toda a organização. Além disso, são muito mais propensos a afirmar que as suas organizações adotaram GenAI em quatro ou mais funções de negócio e que incorporaram um número maior de funcionalidades de inteligência artificial. Por exemplo, os entrevistados de empresas de alta performance relatam com mais frequência a incorporação de gráficos de conhecimento em pelo menos um processo de produto ou função de negócio, além dos recursos de GenAI relacionados às capacidades de processamento de linguagem natural.

Embora as empresas de alta performance em IA não estejam imunes aos desafios de capturar valor com a inteligência artificial, os resultados sugerem que as dificuldades que enfrentam refletem sua maturidade em relação a essa tecnologia, enquanto outras se debatem com os elementos estratégicos mais fundamentais da simples adoção da inteligência artificial. Muitos entrevistados de empresas de alta performance em IA indicam modelos e ferramentas como seus principais desafios. Isso inclui, por exemplo, o monitoramento de desempenho dos modelos em produção e retreinamento de modelos com o passar do tempo. Os demais entrevistados, por sua vez, citam questões estratégicas, como definir uma visão clara para a inteligência artificial ou obter os recursos necessários para implementação.

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Os resultados da pesquisa mostram, também, que mesmo as empresas de alta performance ainda não dominam as melhores práticas de adoção da IA, como operações de machine learning (MLOps), embora tenham muito mais chances de consegui-lo do que as demais. Por exemplo, apenas 35% dos entrevistados de empresas de alta performance em IA afirmam que suas organizações, sempre que possível, rearranjam componentes existentes em vez de reinventá-los (ainda que esse percentual supere em muito os 19% de entrevistados de outras organizações que relatam a mesma prática).

Talvez sejam necessárias diversas tecnologias e práticas especializadas de MLOps para que se possa adotar – da forma mais segura possível – alguns dos casos de uso mais transformadores que as aplicações que a GenAI é capaz de oferecer. Operações de modelo são uma dessas áreas, onde os sistemas de monitoramento e a configuração de alertas instantâneos para permitir a resolução rápida de problemas podem manter os sistemas de GenAI sob controle. As empresas de alta performance em IA destacam-se neste aspecto, mas ainda há muito espaço para crescer: apenas um quarto dos entrevistados dessas organizações (e meros 12% das demais) afirma que o sistema inteiro da empresa é monitorado e equipado com alertas instantâneos.

 

3. O perfil dos talentos de IA está mudando e são esperados efeitos significativos na força de trabalho

Os resultados de nossa pesquisa mais recente mostram algumas mudanças em como as empresas estão formando suas equipes para levar adiante suas ambições em inteligência artificial. No último ano, as organizações que já utilizam IA contrataram de forma regular engenheiros de dados, engenheiros de machine learning e cientistas de dados – todas elas funções para as quais, na pesquisa anterior, os entrevistados afirmaram terem feito contratações regularmente. Porém, uma parcela bem menor relatou ter contratado engenheiros de software de IA, função com mais contratações no ano anterior (28% na pesquisa mais recente, contra 39% anteriormente). Posições para engenheiros de prompt têm sido abertas recentemente, uma vez que essa habilidade vem se tornando cada vez mais necessária com a adoção da GenAI: 7% dos entrevistados de organizações que adotaram inteligência artificial relataram ter feito contratações para essa função no ano que passou.

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Os resultados da pesquisa sugerem que continua sendo um desafio contratar profissionais para funções relacionadas à inteligência artificial, embora tenha ficado um pouco mais fácil ao longo do último ano – o que talvez seja reflexo da onda de demissões em empresas de tecnologia entre o final de 2022 e o primeiro semestre de 2023. Uma porcentagem menor de entrevistados em relação à pesquisa anterior relatou dificuldades para contratar cientistas de dados de IA, engenheiros de dados e especialistas em visualização de dados, embora as respostas indiquem que a contratação de engenheiros de machine learning e product owner em IA permaneçca tão desafiadora como no ano anterior.

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Olhando para os próximos três anos, os entrevistados preveem que a adoção da IA irá transformar muitas funções na força de trabalho. De modo geral, eles esperam que mais colaboradores serão requalificados do que afastados. Quase quatro em cada dez entrevistados de empresas que já adotaram a inteligência artificial esperam que mais de 20% da força de trabalho seja recapacitada, e 8% afirmam que o número de colaboradores diminua em mais de 20%.

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Especificamente com relação ao impacto da GenAI, as operações de serviços são a área em que a maioria dos entrevistados espera ver uma redução da força de trabalho em suas organizações. Esta expectativa alinha-se, de modo geral, com o que a nossa pesquisa recente sugere: embora o surgimento da IA generativa tenha elevado nossa estimativa do percentual de atividades passíveis de serem automatizadas (de 50% para 60% 70%), isso não se traduz necessariamente na automação de uma função inteira.

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Espera-se que o grau de requalificação profissional seja muito maior nas empresas de alta performance em IA do que nas demais. Os entrevistados dessas empresas são três vezes mais propensos a afirmar que suas organizações pretendem requalificar mais de 30% da força de trabalho nos próximos três anos como resultado da adoção da inteligência artificial.

4. Com toda a atenção voltada à GenAI, o impacto e o ritmo de adoção da inteligência artificial permanecem estáveis

Embora o uso de ferramentas de GenAI esteja se disseminando rapidamente, os dados da pesquisa não mostram que essas novas ferramentas, de modo geral, estejam impulsionando as organizações a adotarem a inteligência artificial. Esse percentual permanece estável, ao menos por ora, com 55% dos entrevistados relatando que suas organizações adotaram a inteligência artificial. Menos de um terço deles continua afirmando que a IA foi adotada em mais de uma função de negócio, sugerindo que o escopo de utilização da inteligência artificial continua limitado. E, como nas quatro pesquisas anteriores, os entrevistados relatam que desenvolvimento de produtos e serviços e as operações de serviços continuam sendo as duas funções de negócio que mais adotam a inteligência artificial. No cômputo geral, apenas 23% dos entrevistados afirmam que, no ano passado, pelo menos 5% do EBIT das suas organizações foram atribuíveis à utilização da inteligência artificial – praticamente o mesmo percentual da pesquisa anterior – sugerindo que ainda há muito mais espaço para capturar valor.

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As organizações continuam obtendo retorno financeiro nas áreas de negócio que utilizam inteligência artificial e planejam aumentar ainda mais os investimentos nos próximos anos. A maioria dos entrevistados relata que a inteligência artificial gerou aumento de receita em todas as funções de negócio que a utilizam. Além disso, mais de dois terços esperam que suas organizações intensifiquem os investimentos em IA nos próximos três anos.

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Sobre a pesquisa

Um questionário online foi aplicado entre 11 a 21 de abril de 2023 e obteve respostas de 1.684 participantes de diferentes regiões, setores, tamanhos de empresas, especialidades e tempo de experiência. Destes, 913 disseram que suas organizações adotaram a inteligência artificial em pelo menos uma função e foram questionados sobre o uso da IA. Para corrigir diferenças nas taxas de resposta, os dados foram ponderados conforme a contribuição do país de cada entrevistado para o PIB global.

 

 

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