Jogada tripla: crescimento, lucro e sustentabilidade

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Um crescimento constante e lucrativo tem sido difícil de alcançar desde a crise financeira global, o que torna fundamental que as empresas escolham explicitamente o crescimento em sua mentalidade, em seus caminhos e em suas capacidades de execução.1 Muitos executivos acreditam que tornar esse crescimento sustentável e inclusivo envolve dilemas complicados, com renúncia à receita e ao lucro em prol da sociedade e do planeta.2 Nem sempre é o caso. Nossa nova análise indica que as empresas bem-sucedidas financeiramente que integram prioridades ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG, na sigla em ingês) a suas estratégias de crescimento superam seus pares – desde que também os superem nos fundamentos. A mensagem é clara: você não só pode se sair bem ao fazer o bem – pode se sair melhor.

Analisamos o retorno total aos acionistas (RTA), o desempenho financeiro e as classificações de ESG de 2.269 empresas de capital aberto, separando-as em empresas de desempenho superior e de desempenho inferior no setor nos seguintes eixos: pontuações de ESG, crescimento anualizado da receita e lucro econômico (veja o box “Nossa metodologia”). A análise mostra que as empresas que obtêm crescimento e lucratividade maiores do que os de seus pares, ao mesmo tempo em que melhoram a sustentabilidade e o ESG, crescem mais do que os pares e os superam em termos dos retornos aos acionistas.3 Essas empresas “de desempenho triplamente superior” registraram dois pontos percentuais de RTA anual acima daquelas que tiveram desempenho superior apenas nas métricas financeiras (e sete pontos percentuais acima do restante do conjunto de dados), o que indica que um forte compromisso com ESG agrega valor adicional para os acionistas nas empresas que também superam seus pares em crescimento e lucratividade (Quadro 1).4

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Um fato importante é que se destacar em ESG não compensa uma lucratividade e um crescimento fracos. Por exemplo, os retardatários em crescimento e lucro que apresentaram desempenho superior apenas nas medidas de ESG tiveram um desempenho inferior ao dos pares em cinco pontos percentuais do RTA. Em outras palavras, o ESG não é uma panaceia – não salva uma empresa de desempenho inferior que esteja empregando uma estratégia falha. Além disso, a análise não implica que os mercados de capitais atribuem uma avaliação melhor às empresas triplamente superiores, apenas que elas registraram desempenho superior nas métricas financeiras.

Receita + lucro econômico + progresso em ESG = retornos excepcionais

Tem sido difícil obter um forte crescimento nos últimos 15 anos, sendo que as maiores empresas do mundo cresceram à metade da taxa anterior a 2008.5 Entre 2017 e 2021, menos de uma em cada quatro empresas de nossa amostra alcançou mais de 10% de crescimento anual da receita. No entanto, as empresas triplamente superiores se saíram muito melhor, já que mais da metade delas cresceu 10% ou mais (Quadro 2).

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As empresas de desempenho triplamente superior aumentaram sua receita a uma taxa mediana de 11% ao ano, o que corresponde a 1,4 ponto percentual a mais do que a mediana alcançada pelas empresas que apresentaram crescimento lucrativo superior, mas que ficaram para trás em ESG. As empresas de desempenho triplamente superior também superaram as de desempenho superior em crescimento rentável em 2,5 pontos percentuais em termos do RTA excedente mediano.

Os princípios atemporais da geração de valor para o acionista permanecem válidos: as iniciativas de ESG, em última análise, precisam aparecer no desempenho financeiro para gerar retornos excepcionais. Escolher ativamente o crescimento por meio da adoção da mentalidade, da estratégia e das capacidades certas também continua sendo essencial: se você puder crescer de forma lucrativa como líder em sustentabilidade, o mercado o recompensará por esse crescimento. Uma análise McKinsey recente, por exemplo, mostra que os players do setor químico com portfólios de produtos de baixo carbono ou com alta exposição a mercados finais que apoiam a sustentabilidade aumentaram seu retorno aos acionistas em mais do que o dobro da taxa dos retardatários em sustentabilidade entre 2016 e 2021.6 Da mesma forma, os players de mineração que aproveitaram as oportunidades de crescimento associadas ao aumento da demanda de lítio por parte das tecnologias verdes estão tendo uma recepção positiva do mercado.

É importante observar que nem todos os setores registraram retornos aos acionistas correlacionados a melhorias na classificação de ESG durante o período de nosso estudo, e alguns dos ganhos podem ser afetados pela atual desaceleração (veja o box “O impacto da correção recente do mercado”). Os maiores ganhos dos acionistas ocorreram nas empresas de desempenho triplamente superior das áreas financeira, de materiais básicos e de eletrônica avançada, provavelmente devido às mudanças nas preferências dos consumidores no sentido de apoiarem as “vantagens ecológicas” e à redução dos riscos referentes a regulamentações e a custos relacionados ao carbono. Por outro lado, as áreas de alta tecnologia e de varejo não conseguiram obter benefícios de fortes melhorias na classificação de ESG – ainda. A dinâmica dos setores e a crise da COVID-19 (que gerou crescimento para a alta tecnologia, mas queda para o varejo) podem ter superado os efeitos do ESG nesses setores. Acreditamos, contudo, que o padrão de desempenho em ESG está se elevando rapidamente em todos os setores e regiões. Além disso, apenas acompanhar o ritmo do seu setor não gera vantagens de mercado – os investidores recompensam as empresas que melhoram sua classificação de ESG mais rapidamente do que seus pares e que têm desempenho superior em outros aspectos.

Como fazer a jogada tripla do crescimento

Então, como as empresas de desempenho triplamente superior em crescimento realizam essa façanha? Elas costumam ser guiadas por cinco princípios: integrar o crescimento, a lucratividade e o ESG à estratégia principal; inovar nas ofertas de ESG para promover a geração de valor; usar fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) para capturar rapidamente bolsões de crescimento em ESG; monitorar e divulgar dados de ESG e dados correlacionados de forma transparente; e incorporar prioridades estratégicas ao DNA organizacional.

Integrar o crescimento, a lucratividade e o ESG à estratégia principal. As empresas de desempenho superior não se dedicam a iniciativas relacionadas a ESG como atividades secundárias, mas as integram à estratégia corporativa mais ampla, juntamente com o crescimento e a lucratividade. Veja o exemplo de uma empresa de desempenho triplamente superior da área de metais e mineração que vem focando sua estratégia e seus investimentos na descarbonização como maneira de cumprir todos os três objetivos. A empresa se desfez de seus negócios baseados no carvão e migrou para materiais que favorecem a transição energética. Para aumentar o crescimento da receita, ela estabeleceu um orçamento autônomo para investimentos em alumínio verde, aço verde, soluções de captura de carbono e outros mercados de rápido crescimento. Em paralelo, empreendeu várias iniciativas no plano social, destinadas a reduzir o risco de intervenções regulatórias e legais e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade dos funcionários. Por exemplo, ela implementou um plano para criar um ambiente de trabalho mais seguro e inclusivo e abordou seu impacto local por meio de acordos com povos indígenas e comunidades locais.

Inovar nas ofertas de ESG para promover a geração de valor. As empresas de desempenho triplamente superior costumam atuar na vanguarda da inovação, tanto no que fazem quanto em como o fazem. Muitas concentram suas iniciativas de inovação principalmente no crescimento da receita, ao desenvolverem ofertas para melhor atenderem às necessidades dos clientes – e, sempre que possível, atenderem à demanda baseada no ESG que vem surgindo.

Isso pode envolver a criação de soluções voltadas a clientes empresariais, a fim de ajudar esses clientes a atender às suas próprias necessidades regulatórias ou relacionadas a ESG. Uma empresa europeia de transporte e logística, por exemplo, recorreu à inovação para ajudá-la a atingir a liderança em ESG em seu setor, já que o tópico estava chamando a atenção dos stakeholders. Ela optou por focar em ajudar seus clientes a reduzir a pegada de carbono de suas cadeias de suprimentos. A empresa estabeleceu um polo de inovação para orientar iniciativas globais e criou um mecanismo de monitoramento de tendências tecnológicas para ficar a par das tecnologias que vão despontando. Também está colaborando com especialistas externos em sustentabilidade, digitalização e inovação para desenvolver soluções sob medida para os desafios enfrentados por seus clientes no que tange às cadeias de suprimentos. Esse investimento deu origem a novas ofertas de preço mais elevado referentes à divulgação e compensação de carbono, a combustíveis sustentáveis e ao projeto e otimização de cadeias de suprimentos, o que aumentou substancialmente sua receita. Como resultado, a empresa traduziu sua vantagem de pioneirismo em ESG no setor em um crescimento anual da receita 20% maior do que o de seus pares, ao mesmo tempo em que obteve um RTA excedente anualizado de 20% desde 2017.

Usar M&A para capturar rapidamente bolsões de crescimento em ESG. As fusões e aquisições programáticas podem acelerar a entrada das empresas em novas áreas de crescimento.7 Os players bem-sucedidos costumam procurar bolsões de crescimento adjacentes mal atendidos e alocar recursos específicos para capturar essas oportunidades. Muitas empresas de desempenho triplamente superior dão um passo além, integrando os critérios de ESG, juntamente com os critérios financeiros e de mercado existentes, à sua avaliação de potenciais adjacências e seleção de alvos de M&A.

Uma multinacional de cosméticos, por exemplo, criou a reputação de ter um foco intenso na sustentabilidade e na inclusão ao direcionar seu portfólio de ativos a ofertas voltadas a ESG. Ao longo de uma década, ela adquiriu uma dezena de empresas inovadoras, acrescentando marcas de luxo que oferecem produtos e serviços sustentáveis e inclusivos e expandindo-se para novas áreas, como a de tecnologia de saúde da mulher. Ao aproveitar as sinergias entre as marcas, ela capturou bolsões de crescimento tanto dentro de seu negócio principal quanto em segmentos adjacentes. Nesse processo, suas classificações de ESG subiram 39 pontos percentuais durante o período de nosso estudo, e os investidores aumentaram o retorno aos acionistas da empresa em 25% ao ano acima da média do setor.

Divulgar e comunicar-se de forma transparente. Com frequência, ouvimos líderes empresariais expressarem frustração com o fato de os mercados de capitais não reconhecerem e recompensarem os investimentos de sua empresa em iniciativas com horizontes de tempo mais longos, o que geralmente é verdade no caso dos empreendimentos de crescimento relacionados a ESG. Embora haja inúmeros motivos pelos quais isso pode acontecer, uma divulgação rigorosa e uma comunicação proativa com a comunidade de investidores a respeito de como essas iniciativas agregam valor, juntamente com as metas e o progresso, são fundamentais para obter essas recompensas. Por si só, a comunicação não gerará valor, mas a transparência pode acelerar o reconhecimento do potencial futuro por parte dos investidores. Uma vez que uma empresa tenha definido metas claras e ambiciosas, ela precisa demonstrar continuamente de onde vem o valor e mostrar avanços em iniciativas relacionadas – com validação externa, sempre que possível –, de modo que o progresso seja convincente para os consumidores e os investidores.

A título de exemplo, um fornecedor de software europeu criou uma ferramenta interativa de fácil utilização que monitora publicamente seu progresso nas principais métricas de ESG, além de seu desempenho financeiro. O painel é particularmente forte no monitoramento da dimensão “S”, ou social, que a empresa tem priorizado. Por exemplo, as proporções dos gêneros em sua força de trabalho podem ser vistas não apenas pelo tempo de serviço, mas também pelo número de funcionários de tempo parcial em relação aos de tempo integral e pelo número de funcionários permanentes em relação aos temporários. Um fornecedor multinacional de tecnologia automotiva, por sua vez, reforça continuamente, para stakeholders externos, a ligação entre sua tecnologia e sua estratégia de sustentabilidade, vinculando estreitamente suas metas de sustentabilidade e ESG a objetivos estratégicos, como crescimento de mercado, produtividade e satisfação do cliente.

Incorporar prioridades estratégicas ao DNA organizacional. As empresas de desempenho triplamente superior traduzem suas estratégias de alto nível referentes a crescimento, lucratividade e ESG em iniciativas concretas que fazem parte da nova estratégia corporativa. As equipes de gestão estabelecem responsabilidades, métricas de desempenho e metas claras e as medem de forma rigorosa. Também realocam seus recursos para essas novas oportunidades e garantem que os processos internos incentivem os líderes empresariais a integrar os critérios relevantes – inclusive ESG – a suas decisões.

Por exemplo, um player global do setor de transporte que alcançou um desempenho triplamente superior assegurou que sua estratégia fosse incorporada totalmente à organização. A empresa criou comitês em todos os níveis, desde o conselho de administração até as operações, para avaliar de modo holístico a maioria das métricas, inclusive crescimento, lucratividade e ESG. Ademais, a organização atrelou a remuneração às principais metas de ESG e estabeleceu parcerias com clientes para desenvolverem, em conjunto, novas soluções ecológicas. Seu foco intenso na governança não só a ajudou a aumentar o crescimento da receita, mas também a otimizar custos e a se preparar para possíveis intervenções legislativas, como impostos sobre emissões de carbono.


Embora a medição do desempenho em ESG ainda esteja em evolução, o rumo a ser tomado é claro, e é necessário agir agora. Os líderes precisam ter uma perspectiva de longo prazo e coragem para investir em um crescimento sustentável e inclusivo que proporcione receita, lucro econômico e retorno aos acionistas.

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