GenAI: como ela afetará os futuros empregos e fluxos de trabalho?

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As empresas têm se esforçado para compreender as implicações e aplicações da IA gerativa (GenAI) e uma coisa já parece estar clara: a inteligência artificial e suas iterações futuras vieram para ficar. Neste episódio de The McKinsey Podcast, a sócia sênior da McKinsey Kweilin Ellingrud e o sócio Saurabh Sanghvi conversam com a diretora editorial Roberta Fusaro sobre os resultados do último relatório da McKinsey sobre GenAI e explicam por que as empresas precisam se rearticular para adotarem essa tecnologia e aceitarem as mudanças profundas e duradouras que ela poderá criar. A adaptabilidade individual e organizacional será essencial.

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Também neste episódio, o advento da GenAI tem feito muitas pessoas pensarem no futuro de seus empregos. Em nossa série Author Talks, Joanne Lipman, autora de Next! The power of reinvention in life and work (Mariner Books, março 2023), fala sobre um processo em quatro etapas para você descobrir aonde poderá ir em seguida e como chegar lá.

A transcrição a seguir foi editada para maior clareza e concisão.

The McKinsey Podcast é coapresentado por Roberta Fusaro e Lucia Rahilly.

Primeiro, uma pandemia…

Roberta Fusaro: Antes de examinarmos os resultados do relatório do McKinsey Global Institute sobre GenAI e o futuro do trabalho nos Estados Unidos, gostaria de perguntar: Por que este relatório? E por que agora?

Kweilin Ellingrud: Duas influências mudaram tudo. A primeira é que estamos enfim saindo de três anos de Covid, depois de grandes turbulências e mudanças na força de trabalho. E a segunda é a GenAI, que entrou em cena com estrondo há cerca de seis meses.

Juntas, elas mudaram a natureza do trabalho e dos empregos, e nos inspiraram a perguntar: “O que há de diferente agora?” e “O que podemos esperar do futuro?”.

Saurabh Sanghvi: Eu acrescentaria que o mercado de trabalho parece diferente do que costumava ser. Acreditamos que parte disso tem a ver com a pandemia e parte com mudanças nas necessidades e preferências dos trabalhadores.

Estamos vendo todo tipo de mudanças técnicas inéditas, indo além até mesmo da GenAI. Se avançarmos um pouco mais, veremos um nível recorde de investimento do governo federal em infraestrutura e esforços para chegarmos ao net-zero [emissões líquidas zero]. É essa confluência de fatores que queríamos entender com esta nova pesquisa sobre o futuro do trabalho e a GenAI.

Roberta Fusaro: A escassez de mão de obra da época da pandemia também veio para ficar?

Kweilin Ellingrud: Neste momento, temos duas vagas abertas para cada desempregado, de modo que estamos bastante desequilibrados em comparação com anos anteriores. Acreditamos que este “aperto” do mercado de trabalho irá persistir, mas não creio que será tão apertado como cerca de um ano atrás, quando estávamos saindo da pandemia.

Algumas das tendências de longo prazo que aceleraram durante a pandemia persistirão; entre elas, pessoas querendo mais flexibilidade no trabalho, maior controle sobre sua evolução profissional e mais significado e conectividade no emprego e no local de trabalho.

Roberta Fusaro: Quais profissões ou categorias ocupacionais foram mais afetadas durante a pandemia? Quais estão em expansão e quais estão em declínio?

Kweilin Ellingrud: Há diversas ocupações em crescimento, incluindo muitos empregos nas áreas de saúde, STEM [ciência, tecnologia, engenharia, matemática], transportes, entregas.

Mas há também muitas ocupações em declínio. Penso que 80% das transições profissionais entre hoje e 2030 ocorrerão em quatro categorias ocupacionais: atendimento ao cliente, serviços de alimentação, produção ou manufatura, e suporte de escritório. Essas quatro áreas exigirão muita recapacitação, requalificação e apoio para incentivar os trabalhadores a adquirirem competências que lhes permitam ser replantados em outras profissões em expansão na economia.

Saurabh Sanghvi: Além disso, estamos começando a ver uma retomada palpável na construção civil, educação e economia criativa. Parte disso é decorrência do programa federal para reformar a infraestrutura do país. Quando nos referimos à construção civil, boa parte do crescimento provém das grandes obras de infraestrutura que têm motivado e incentivado o setor.

Mas a outra área que eu gostaria de destacar é a educação, onde a pandemia foi realmente um golpe estrutural no modo como a concebemos. Agora, porém, estamos regressando à antiga tendência histórica de precisarmos de muito mais educadores em todos os níveis.

…e, em seguida, uma transformação tecnológica

Roberta Fusaro: Mas se acrescentarmos agora a automação e o espectro da GenAI à mistura, quais efeitos podemos projetar que elas terão no mercado de trabalho?

Kweilin Ellingrud: O impacto da GenAI, por si só, poderá automatizar quase 10% das tarefas na economia dos EUA. Isso afetará todos os tipos de empregos, mas será muito mais concentrado nos empregos de salários mais baixos, aqueles que pagam menos de US$ 38 mil por ano. Na verdade, aqueles que estão nesses empregos têm probabilidade 14 vezes maior de perdê-lo ou de precisar fazer a transição para outra ocupação do que aqueles em cargos com salários mais altos – acima de US$ 58 mil por ano, por exemplo.

O impacto da GenAI, por si só, poderá automatizar quase 10% das tarefas na economia dos EUA.

Kweilin Ellingrud

Mas esses efeitos também serão sentidos nos empregos no extremo superior da faixa salarial. Escritores, pessoal de criação, advogados, consultores… todos precisarão trabalhar de forma diferente, porque partes de seus empregos serão afetadas pela GenAI. Para alguns, a mudança será mais radical e implicará a eliminação do seu emprego; para outros, modificará a forma como utilizam seu tempo.

A importância de adquirir novas competências

Roberta Fusaro: Os números são bastante significativos e meio assustadores. Mas sei também que existem muitas oportunidades excelentes associadas à GenAI. Com relação ao impacto sobre os trabalhadores com salários mais baixos, em particular, quais mecanismos poderiam garantir que existam maneiras de ascender a hierarquia?

Kweilin Ellingrud: É provável que 12 milhões de transições ocupacionais terão que acontecer entre hoje e 2030, sendo 80% delas nas quatro grandes áreas que mencionei: atendimento ao cliente, serviços de alimentação, produção e suporte de escritório.

Como assegurar que os trabalhadores nesses empregos possam ser requalificados e recapacitados? Muito dependerá de cada empresa conseguir oferecer isso em escala – não para centenas, mas para milhares de trabalhadores. Acredito que parcerias público-privadas entre o governo federal e as instituições de ensino podem ajudar a treinar e aprimorar as competências da nossa força de trabalho.

Como assegurar que os trabalhadores nesses empregos possam ser requalificados e recapacitados? Muito dependerá de cada empresa conseguir oferecer isso em escala – não para centenas, mas para milhares de trabalhadores.

Kweilin Ellingrud

Assim, se as empresas passarem a contratar funcionários mais com base em suas competências, buscando as competências de que necessitam e não credenciais, isso também ajudará. O aspecto positivo de tudo isso é que teremos mais empregos no futuro do que temos hoje, dadas as tendências demográficas, as tendências de consumo e o crescimento do PIB. Em média, esses empregos serão mais bem remunerados, mas exigirão níveis de instrução mais elevados.

Roberta Fusaro: Gosto dessa perspectiva positiva. Acho que é disso que todos nós precisamos. Mas estou curiosa: como podemos garantir que o futuro do trabalho não excluirá grupos tradicionalmente desfavorecidos?

Kweilin Ellingrud: É uma ótima pergunta, porque o perigo existe e, se não for bem gerido, afetará mais os trabalhadores com salários mais baixos. Afetará mais as pessoas de cor. Afetará mais as mulheres. Por exemplo, as mulheres são 50% mais propensas do que os homens a estarem em uma dessas profissões que exigirão transição ocupacional.

A maneira de garantir que estamos sensíveis a essa necessidade é oferecer requalificação e recapacitação. Se você exerce uma função de atendimento ao cliente ou de vendas, por exemplo, existem programas que podem ajudar a identificar as trajetórias profissionais que permitem utilizar suas capacidades para subir na hierarquia e, talvez, se requalificar e recapacitar de maneiras que facilitem encontrar o próximo emprego.

Programas federais também podem ajudar. No caso de investimentos em infraestrutura, poderia ser exigido que os contratos só sejam assinados com empresas que ofereçam serviços de creche, por exemplo. Isso também ajudaria a aumentar a inclusão de mães que trabalham fora, visto que a construção civil sempre foi, historicamente, um reduto bastante masculino e bastante branco. Mas com todo esse investimento sendo feito em infraestrutura, muitas das vagas criadas na construção civil podem agora ser mais equitativas em termos de oportunidades de crescer e avançar no emprego.

Saurabh Sanghvi: Realmente precisamos de foco intencional. Refletindo sobre o espaço de soluções, se olharmos para o ensino superior, por exemplo, a capacidade de trabalhar com faculdades e universidades historicamente negras é uma ótima maneira de efetivamente ajudar os alunos negros a seguirem uma trajetória profissional de alto crescimento e salários elevados, como a de algumas das ocupações que mencionamos.

Da mesma forma, refletindo sobre alguns dos programas de desenvolvimento para trabalhadores, há muito investimento sendo direcionado para novas regiões que nunca tiveram centros de inovação vibrantes. Esses investimentos podem, de fato, ajudar a criar algumas dessas oportunidades em regiões sem um bom histórico de criação de empregos.

Roberta Fusaro: Como as empresas devem utilizar os dados deste relatório em termos de mudar seu modo de pensar sobre, por exemplo, o desenvolvimento de talentos?

Saurabh Sanghvi: As empresas podem ter um papel importantíssimo. Primeiro, devem realmente pensar em como contratar por competência, em vez ficarem olhando o diploma das pessoas ou os pré-requisitos de seu emprego anterior.

A segunda coisa é que esta é uma ótima oportunidade para pensarem em pipelines e trajetórias profissionais. Todo mundo está aprendendo sobre essas novas tecnologias. Todo mundo precisa se recapacitar. Portanto, as empresas devem pensar a fundo na possibilidade de contratarem internamente antes de abrirem vagas para candidatos de fora. Trajetórias profissionais podem ser encontradas dentro da própria empresa que ajudem as pessoas a deixar um cargo menos demandado e assumir uma função com mais demanda. Isso provavelmente seria muito mais econômico e eficiente, visto que o capital humano já existe.

Por fim, mesmo que pensemos um pouco além da GenAI, o que vemos é que os trabalhadores estão exigindo um novo estilo e maneira de trabalhar. Portanto, outra coisa que será realmente importante é as empresas terem condições de criar novas maneiras de trabalhar e novos modelos de trabalho que sejam mais flexíveis e permitam aproveitar tanto os momentos presenciais como os momentos remotos. Será que isso pode ser feito de tal modo que efetivamente torne as empresas mais inclusivas e atrativas para mulheres trabalhadoras e para funcionários adultos que estejam também cursando uma universidade?

Empregos verdes = crescimento

Roberta Fusaro: O relatório destaca o papel dos investimentos do governo federal na renovação da infraestrutura e em iniciativas para alcançar metas climáticas net-zero. Qual impacto isso pode ter no mercado de trabalho?

Saurabh Sanghvi: Acreditamos que o net-zero será uma tremenda oportunidade de criação de empregos. Contudo, de maneira semelhante a algumas das coisas que mencionamos sobre automação e IA, um intenso processo de transição é inevitável. No final, o que veremos será uma demanda menor de trabalhadores nos setores de petróleo e gás, e uma demanda maior de empregos mais “verdes” em torno das energias renováveis (solar e eólica, por exemplo) e de toda a sua infraestrutura.

No final, o que veremos será uma demanda menor de trabalhadores nos setores de petróleo e gás, e uma demanda maior de empregos mais “verdes” em torno das energias renováveis (solar e eólica, por exemplo) e de toda a sua infraestrutura.

Saurabh Sanghvi

O mais importante agora é saber como poderemos ajudar os trabalhadores a realizarem a transição de categorias potencialmente em declínio para empregos mais verdes. E também como fazer para recapacitá-los nesses empregos mais verdes? O caso da infraestrutura é um pouco mais simples de entender. Muitos dos investimentos do governo federal nessa área estão em nível recorde e têm ido para a construção civil, obras públicas, reparo de estradas e pontes e similares. Portanto, o impacto direto disso tudo será maior no setor da construção civil.

Uma das grandes oportunidades nesse setor é o fato de ter sido sempre bastante dominado pelos homens. Portanto, existem oportunidades significativas em pensarmos como expandi-lo para as mulheres. Da mesma forma, trata-se de um setor que não é muito diversificado do ponto de vista racial e étnico. Como podemos expandir suas oportunidades também para as pessoas de cor?

Kweilin Ellingrud: Do lado do net-zero, vemos um aumento líquido de cerca de 700.000 empregos. Na verdade, porém, 3,5 milhões de trabalhadores estão sendo deslocados de empregos que, direta ou indiretamente, seriam eliminados.

Por outro lado, haverá um ganho de 4 milhões de empregos em energias renováveis e outras áreas. Ou seja, haverá um enorme deslocamento de trabalhadores seguido da criação líquida de novos empregos. Há, portanto, muita disrupção no mercado de trabalho da economia global para que ocorra essa criação líquida de 700.000 empregos. Mas temos a esperança de que será um enorme motor de crescimento no futuro.

Roberta Fusaro: Creio que, como apresentadora e editora de podcasts, eu já deveria estar pensando em arranjar um emprego na construção civil ou em alguma dessas outras áreas de oportunidades que vocês estão citando, pois os dados realmente parecem inequívocos.

Saurabh Sanghvi: Certamente haverá muitos novos empregos verdes, de modo que há no país uma enorme oportunidade de começar a se divulgar a existência de todo um setor de empregos que realmente ajudariam a salvar o planeta e nos quais estudantes e trabalhadores adultos já poderiam ir pensando.

Considerando que a próxima geração de estudantes deseja ter um senso de missão e está interessada em empregos que tenham um propósito, há uma tremenda oportunidade de conectar essas duas coisas.

Forças do mercado de trabalho fora da GenAI

Kweilin Ellingrud: Ao longo da história, cerca de 9% ou 10% dos empregos em cada década são ocupações novas que não existiam antes. São vagas em advanced analytics, por exemplo, ou em energias renováveis (como acabamos de descrever) ou nas mídias sociais (influenciadores).

Como refletir sobre esses novos empregos e as competências que exigirão? Historicamente falando, eles sempre foram mais dominados por homens do que por mulheres. Mas a questão é: como desenvolver as competências de que precisaremos no futuro, seja para os empregos que já sabemos serão necessários, seja para novas ocupações que ainda nem podemos imaginar?

Roberta Fusaro: Existem outras forças citadas no relatório que ainda não mencionamos e que poderiam afetar o mercado de trabalho nos próximos dois a cinco anos?

Saurabh Sanghvi: Um outro fator que poderá impactar o mercado de trabalho é que nossa força de trabalho está envelhecendo. Isso terá impacto em tudo, pois diz respeito a aposentadorias e ao fato de que o número de pessoas deixando seus empregos nunca ter sido tão alto como nos últimos dois anos. Veremos também um impacto na demanda por serviços de saúde nos EUA.

Outra conclusão, possivelmente a minha favorita neste relatório, é que nos últimos três anos ocorreram 50% mais transições profissionais do que nos três anos anteriores. Ao meu ver, esta é uma notícia realmente positiva, pois todas essas transições ocupacionais resultam, desproporcionalmente, em trabalhadores ocupando cargos mais bem remunerados.

Se for possível dar continuidade a essa tendência ao longo da próxima década, talvez possamos viver num mundo em que algumas das disrupções que mencionamos acabarão sendo realmente positivas, ajudando os trabalhadores a assumir cargos de maior salário e a ter oportunidades de uma carreira profissional mais gratificante. E, pela primeira vez, temos evidências reais e concretas de que isso está de fato acontecendo e num ritmo mais rápido do que jamais visto.

Kweilin Ellingrud: Outro elemento que afeta nossa força de trabalho é a imigração ter se mantido bastante baixa por um longo período. A combinação de índices elevados de demissão voluntária, aposentadoria antecipada por problemas de saúde ou outros fatores, e imigração reduzida – todas estas coisas exacerbando a escassez de talentos que descrevíamos anteriormente – faz com que mercado de trabalho seja até mais desafiador para as empresas do que para os funcionários.

Resultados surpreendentes

Roberta Fusaro: Para ambos, Kweilin e Saurabh, qual foi o resultado mais surpreendente dessa pesquisa?

Kweilin Ellingrud: A constatação que mais me chocou foi que as pessoas em cargos de salário mais baixo (menos que US$ 38 mil por ano) têm probabilidade 14 vezes maior de precisarem mudar de profissão do que aquelas em empregos mais bem remunerados. Eu acreditava que o impacto da automação e da GenAI seria mais igualitário, mesmo sabendo que o efeito seria um pouco desproporcional. Mas 14 vezes foi algo totalmente chocante para mim.

Roberta Fusaro: Com certeza. Saurabh, alguma constatação surpreendente da sua parte?

Saurabh Sanghvi: Como Kweilin mencionou anteriormente, à medida que avançamos para o midpoint scenario [quando 50% das atividades terão sido automatizadas], a proporção de atividades passíveis de serem automatizadas passou de 21% para 29%. E embora não tenhamos conversado sobre isso, o que realmente me surpreendeu foi que a proporção antes da GenAI era 21%.

E esses 21% estão tendo um impacto maior nos resultados de nossa pesquisa do que aumento recente provocado pela GenAI. Pensando em outras tecnologias, como robótica e quiosques entrando no setor de fast-food, muitas delas estão tendo impacto maior em vários desses setores. Mas também precisamos pensar nas implicações de todas as outras tecnologias.

Vendo o lado bom das coisas…

Roberta Fusaro: Se houvesse uma mensagem ou um aspecto positivo que vocês pudessem compartilhar com nossos ouvintes, qual seria?

Kweilin Ellingrud: Olhando para o lado positivo, para o número crescente de empregos, salários mais altos ao longo do tempo, sim, existem muitas transições ocupacionais pela frente, muita requalificação e recapacitação em grande escala. Mas diante do crescimento do PIB, o mais reconfortante é que esses novos empregos mais bem remunerados significam que um futuro melhor nos aguarda, depois de atravessarmos esse período de transição tumultuado e desafiador.

Saurabh Sanghvi: Muitas vezes, quando falamos sobre inteligência artificial e IA gerativa, logo concluímos que haverá perda de empregos, mas uma das constatações de nossa pesquisa é que se trata muito mais de uma história de aumento de empregos. Para enfatizar isso, podemos tomar o caso dos professores, que estão hoje entre os trabalhadores mais sobrecarregados do país.

Muitas vezes, quando falamos sobre inteligência artificial e IA gerativa, logo concluímos que haverá perda de empregos, mas uma das constatações de nossa pesquisa é que se trata muito mais de uma história de aumento de empregos.

Saurabh Sanghvi

Se considerarmos todas as atividades em que os professores trabalham, muitas delas não envolvem alunos e são meras tarefas administrativas. O enorme potencial desta tecnologia consiste em nos ajudar a ampliar as profissões e abrir tempo que possa ser utilizado para outras finalidades. No caso dos professores, eles poderão dedicar mais tempo diretamente aos alunos, contribuindo para melhorar os resultados acadêmicos. Este é apenas um exemplo, mas há muitos outros análogos em outras profissões.


Lucia Rahilly: Se a GenAI permitir aumentar muito seu tempo disponível, você pensaria em reformular sua vida? Aqui está Joanne Lipman, autora de Next! The power of reinvention in life and work.

Joanne Lipman: Existem quatro etapas, que eu chamo de “roadmap da reinvenção”: busca, empenho, parada, solução.1

O primeiro passo, a busca, é fascinante porque é quando coletamos informações e experiências. É o que nos levará à nossa transição, à nossa reinvenção, embora não saibamos disso no momento. Para aqueles que já têm uma carreira, pode ser uma atividade paralela, um interesse aleatório, algo sobre o qual gostariam de ler, ou um hobby.

O segundo passo é o empenho. Temos que nos empenhar quando nos desconectamos ou começamos a nos desconectar de uma identidade anterior, mas ainda não descobrimos para onde estamos indo. Quando contamos histórias de reinvenção sobre pessoas que passaram por transformações incríveis, tendemos a pular esta parte, mas é aqui que todo o trabalho importante é realizado. Muitas vezes, a necessidade de nos empenharmos só termina quando chegamos a uma parada.

Este é o terceiro passo: a parada. A parada pode ser algo que nós mesmos iniciamos. Por exemplo, largamos nosso emprego, certo? Mas pode ser algo que tenha sido imposto a nós. Por exemplo, sermos demitidos ou sofrermos um trauma, como um divórcio, uma doença na família, uma pandemia. Seja o que for, somos obrigados a parar e só então somos realmente capazes de sintetizar todas essas experiências.

Tudo isso se funde naquilo que nos leva à nossa solução, a etapa final da reinvenção. Mas mesmo pessoas que passaram pelas reinvenções mais extremas não veem isso como uma reinvenção, e sim como um extremo de si mesmas.

James Patterson é o escritor mais vendido de todos os tempos e o mais bem-sucedido financeiramente. Eu o conheci há mais de 30 anos, quando era uma jovem repórter do Wall Street Journal cobrindo o setor publicitário. Patterson trabalhava na J. Walter Thompson e era responsável pela conta do Burger King. Certo dia, cheguei lá bem cedo e ele me diz: “Ah, estou acordado há horas, porque o que realmente quero é ser escritor”. E eu ficava pensando comigo mesma que ainda bem que esse cara tinha um emprego fixo.

Ele passou por todas as quatro etapas. A busca ocorreu quando começou a escrever e se esforçava para encontrar a sua voz, quando ainda era um executivo de publicidade. O empenho foi quando passou a publicar livros cada vez melhores. Ele havia sido criado para arranjar um emprego e ficar nele. (E, como todos sabem, escrever não é uma carreira.) De modo que vivia nervoso, pois não sabia ao certo se era bom o suficiente. Mas então veio a sua parada, quando já havia publicado uns dez livros.

Ele é capaz de dizer exatamente qual foi o momento em que a “parada” aconteceu. Estava voltando da praia e ficou preso num congestionamento na New Jersey Turnpike. Pôs-se a observar os carros na pista oposta, que estavam indo para a praia, e pensou: “Estou do lado errado da estrada. O que eu quero é passar para o outro lado da estrada e poder ir à praia num domingo.” Ele voltou, mas posteriormente deixou a publicidade e tornou-se romancista em tempo integral. O que acabou se revelando uma ótima ideia.

Esses momentos são diferentes para cada um de nós. Casamos, ou perdemos o emprego, ou mudamos de casa. Existem algumas estratégias para o sucesso, mas existem também algumas coisas que seria bom evitar. Um dos maiores erros que mais me surpreenderam foi descobrir que as pessoas desistem cedo demais.

A maneira certa de falhar é falhar reiteradamente. E há dois mitos muito importantes a ter em mente. O mito da Cinderela é a ideia de que a transformação é abrupta e instantânea. Estamos sempre contando essas histórias e elas nos parecem magníficas. Mas nunca falamos de todo o empenho intermediário. O fato é que não só não há nada de errado conosco, como na verdade estamos avançando, e esta é uma parte extremamente importante do processo de transformação.

O segundo mito que considero bastante prejudicial é a ideia de que temos que ter um plano perfeito de onde queremos chegar. É um ótimo conselho se soubermos sem nenhuma sombra de dúvida que queremos ser cirurgiões dentistas. Mas para muitas das pessoas que entrevistei, era justamente o contrário. Elas não sabiam para onde estavam indo. Não tinham a menor ideia. Não tinham a meta final em mente. Mas estavam abertas para explorar e permitir que o futuro se infiltrasse nelas.

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