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As organizações de saúde estão enfrentando a tarefa cada vez mais difícil – e urgente – de atrair e reter talentos da área médica para atender à crescente demanda dos pacientes por atendimento. Até o final deste ano, prevê-se que os Estados Unidos terão uma escassez de até 64 mil médicos. A pandemia de covid-19 agravou a já significativa incidência de esgotamento entre os médicos e contribuiu para a saída de médicos da força de trabalho clínica em uma quantidade sem precedentes. Quando se olha para o futuro, o desejo dos médicos de deixar o atendimento clínico não mostra sinais de diminuição, sendo que as projeções atuais indicam que o déficit de médicos pode chegar a 86 mil até 2036.
Um dos motivos da escassez prevista é que cerca de 20% dos clínicos têm 65 anos de idade ou mais, o que deixa as organizações sujeitas a perder em breve um número substancial de médicos que se aposentarão. A carência crescente na força de trabalho médica tem importância especial devido à projeção de crescimento da demanda dos pacientes: o número de maiores de 65 anos – um grupo de pacientes inerentemente mais necessitado – deve aumentar de 17% para 23% da população até 2050.
A fim de implementarem estratégias eficazes para lidar com a escassez de médicos e garantirem a continuidade da prestação de atendimento de qualidade aos pacientes, as organizações de saúde estão buscando as causas básicas da saída dos médicos do mercado de trabalho. Com isso em mente, nossa sétima pesquisa com médicos teve como foco descobrir as mentalidades que estão afastando os médicos dos Estados Unidos da força de trabalho (vide box “Metodologia de pesquisa”). Nossas descobertas, com base em uma pesquisa com 631 médicos, ressaltam a necessidade de tomar medidas urgentes.
Rotatividade de médicos
Cerca de 35% dos médicos entrevistados indicam que provavelmente sairão de seu cargo atual nos próximos cinco anos e, desses, em torno de 60% dizem que provavelmente deixarão a prática clínica por completo. Essa mudança iminente não se restringe apenas aos médicos que estão para se aposentar. Dos entrevistados que dizem estar propensos a sair, 59% dos que têm entre 54 e 64 anos observam que seu próximo passo mais provável é se aposentar precocemente ou sair da força de trabalho de atendimento em saúde, e 13% afirmam que prefeririam migrar para um cargo administrativo na força de trabalho de atendimento em saúde. Dos entrevistados com menos de 54 anos e propensão a sair, 37% preferem se aposentar precocemente ou sair da força de trabalho clínica, enquanto 14% preferem fazer a transição para um cargo administrativo. A grande quantidade de médicos que cogitam deixar a área clínica não só resulta em uma deficiência numérica, como também pode prejudicar o conhecimento clínico e a formação de novos profissionais.
Desafios de retenção
A rotatividade deve seguir aumentando, já que os médicos entrevistados vêm demonstrando cada vez mais interesse em sair de seu cargo atual. Em nossa pesquisa, 58% afirmam que seu desejo de mudar de emprego aumentou no último ano. Em nossa pesquisa anterior, 43% relataram o mesmo. Embora nem todos os médicos realizem esse desejo – a rotatividade média dos médicos empregados é inferior a 10% ao ano–, os profissionais também estão bem cientes de que têm outras oportunidades de emprego: 72% dos entrevistados afirmam ser abordados a respeito de ofertas de empregos pelo menos uma vez por mês, e 50% dizem que são abordados pelo menos uma vez por semana.
Por que os médicos saem
Quando indagados sobre os fatores que influenciam sua decisão de sair do emprego, os médicos afirmaram que suas necessidades familiares são tão importantes quanto a remuneração. Em nossa pesquisa, 69% dos entrevistados expressaram o desejo de remuneração mais alta, e a mesma proporção citou necessidades familiares e demandas de vida concorrentes. Outros fatores relacionados ao bem-estar, como o grau de exigência do trabalho, sua carga física e sua carga emocional (66%, 65% e 61%, respectivamente), também são cruciais. Além da remuneração e do bem-estar, os outros principais fatores que influenciam a decisão dos médicos de sair do emprego, de acordo com nossa pesquisa, incluem a questão de estarem ou não envolvidos na tomada de decisões e de terem ou não pessoal de apoio suficiente (o que é discutido em mais detalhes abaixo).
Carga de trabalho e bem-estar
Embora uma carga horária grande possa levar ao esgotamento, a falta de controle sobre seu horário de trabalho afeta o bem-estar dos médicos ainda mais do que a quantidade absoluta de horas trabalhadas, de acordo com a pesquisa. Dos entrevistados que afirmam trabalhar mais de 60 horas por semana, 52% relatam estar esgotados, mas 66% dos insatisfeitos com seu horário de trabalho também relatam isso. Da mesma forma, no grupo dos entrevistados propensos a sair do emprego dentro de um ano, os insatisfeitos com seu horário de trabalho são mais numerosos (32%) do que os que trabalham mais de 60 horas (23%).
Definição de flexibilidade
A flexibilidade no trabalho é um fator essencial para o bem-estar, conforme evidenciado pela correlação entre a satisfação com o horário de trabalho e o esgotamento. No entanto, isso pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes; por isso, em nossa pesquisa, perguntamos aos médicos sobre a importância de vários aspectos da flexibilidade. Uma parcela maior dos médicos entrevistados afirma que a flexibilidade com relação aos dias e horários específicos em que trabalham é mais importante do que a flexibilidade referente ao local onde trabalham. A maioria dos médicos pesquisados relata que a possibilidade de tirar folgas (87%) é importante, enquanto a possibilidade de encontrar quem os substitua quando necessário (77%) e a possibilidade de trabalhar em horários específicos do dia (69%) vêm em seguida. Por sua vez, 38% dos médicos entrevistados consideram importante a possibilidade de trabalhar remotamente.
Inclusão na tomada de decisões
O envolvimento na tomada de decisões é um quesito importante para os médicos na hora de decidirem se deixarão seu cargo, sendo que mais de 60% dos médicos entrevistados disseram que esperam pelo menos ser consultados ou ter direito a voto em decisões importantes. Isso vale para vários tipos de decisões, como as referentes à cultura, às prioridades estratégicas e à qualidade do atendimento ao paciente, e vale tanto para entrevistados que trabalham em sistemas de saúde como para aqueles que atuam em grandes grupos médicos. Entre os entrevistados, as expectativas de envolvimento são maiores com relação à qualidade do atendimento ao paciente e menores no que diz respeito às prioridades estratégicas.
Delegação de tarefas
Para descobrirmos a melhor maneira de oferecer aos médicos um apoio adequado – cuja falta é um dos principais fatores que influem na saída do emprego –, analisamos como esses profissionais despendem seu tempo. Os entrevistados afirmam que quase 20% de seu tempo de trabalho é gasto em tarefas que poderiam ser transferidas para uma equipe não médica ou para a tecnologia. Os entrevistados indicam que a maior parcela do tempo delegável poderia ser confiada a outros profissionais de saúde de nível superior, sendo que os médicos de hospitais relataram a maior porcentagem de delegação possível a esse grupo (42%).
Essas descobertas – combinadas com nossa experiência com a força de trabalho do setor de saúde – sugerem quatro elementos que as organizações podem priorizar para diminuir a crescente defasagem entre a demanda do setor de saúde e a oferta de médicos:
- estruturas de remuneração e incentivo
- necessidades relacionadas ao estilo de vida
- envolvimento na tomada de decisões
- pessoal e sistemas de apoio
Para obter informações sobre essas ferramentas e exemplos de pares que as organizações podem usar para se diferenciar nessas quatro áreas, leia “How to attract and retain physicians in a challenging labor market”. As organizações que direcionam recursos para essas áreas provavelmente se destacarão na atração dos melhores talentos, no aumento da satisfação no trabalho e, em última análise, no atingimento de suas metas estratégicas, tudo isso ao mesmo tempo em que prestam um atendimento excepcional aos pacientes.