Derrubando barreiras linguísticas no Brasil

Quando Jami, gerente de riscos de pessoal em Chicago, viu que Rafael, administrador de RH de São Paulo, estava se preparando para comer sua lasanha recém-preparada com uma pilha de batatas fritas e arroz... ela ficou surpresa.

“Eu disse a ele que, nos Estados Unidos, costumamos comer nossa lasanha com salada ou legumes”, diz Jami. “Ele riu e me disse que era muito estranho porque, sem dúvida, lasanha era melhor com arroz e batatas fritas de acompanhamento.”

Essas conversas, repletas de experiências parecidas e diferentes, acontecem frequentemente entre a Jami e o Rafael, que se conheceram em um programa de coaching em habilidades na língua inglesa criado pelo McKinsey Black Network.

Quando o escritório brasileiro começou a ampliar suas iniciativas de recrutamento para candidatos talentosos que não necessariamente falavam inglês com fluência, surgiu a necessidade de melhorar a competência dos novos colegas em inglês. O programa reuniu em duplas dezenas de colegas do McKinsey Black Network no Brasil com parceiros  do McKinsey Black Netword nos Estados Unidos. Durante um período de quase quatro meses, cada dupla se reuniu semanalmente para conversar, com o objetivo de aumentar o vocabulário, a fluência e a confiança dos nossos colegas brasileiros no inglês oral.

À medida que as habilidades em inglês do Rafael iam se fortalecendo, o mesmo acontecia com o vínculo que ele e a Jami haviam criado. Em um ano repleto de incertezas, os dois se apoiaram, comemorando os triunfos e sucessos um do outro e lamentando uma perda inconcebível. Leia sobre a experiência deles abaixo.

A entrevista a seguir foi editada por questões de extensão e clareza

Contem-me sobre a primeira conversa de vocês – como foi?

Rafael: Eu estava muito nervoso porque fazia pouco tempo que estudava inglês.

Jami: Só me lembro que demos risadas. Nem parecia que não nos conhecíamos. E, apesar de haver uma pequena barreira linguística e de recorrermos bastante ao Google Tradutor para termos certeza de estarmos usando as palavras certas para nos entendermos, senti que foi uma conversa fácil.

Rafael: Para nos conhecermos, conversamos sobre nossas famílias.

Jami: Isso mesmo! Tenho dois filhos, e o Rafael tem um. Também conversamos sobre os planos dele de visitar Chicago futuramente.

Rafael: E falamos de basquete porque adoro o Golden State Warriors. Como nós dois gostamos de basquete, talvez possamos nos encontrar pessoalmente, um dia, para uma partida do Bulls contra o Golden State com nossas famílias.

O que vocês descobriram um sobre o outro?

Jami: Nos últimos meses, teve muitos momentos em que conversamos sobre comida, esportes, mudanças de carreira e até mesmo sobre os nossos tipos de música favoritos. Um dia, estávamos conversando, e reparei em alguns instrumentos pendurados na parede do Rafael. Aí, ele pegou um e começou a tocar.

Rafael: Era um instrumento brasileiro chamado cavaquinho. É um violãozinho usado no samba. Estou aprendendo a tocar sozinho no YouTube.

Jami: Ele tocou muito bem! Muitas vezes, andamos pela casa e mostramos o que cada um está fazendo. Eu sei como é trabalhar em casa em Chicago, mas como é no Brasil? Há momentos em que estou sentada aqui, congelando em uma tempestade de neve, e ele me mostra o sol lindo e o clima quente do lado de fora da janela.

Rafael: É uma ótima maneira de conhecer colegas de outras partes do mundo. Normalmente, só converso com outros colegas do Brasil. Mas agora, graças a este programa, conheço você, Jami, e seus filhos.

Jami: Idem para mim. Sem dúvida, essa experiência ampliou minha rede, já que o Rafael e eu não nos conhecíamos antes. Depois de participar deste programa com o Rafael, aprendi diversas palavras em português. Às vezes, tento surpreendê-lo com o que aprendi.

É uma ótima maneira de conhecer colegas de outras partes do mundo.

Rafael Bispo, administrador de RH

Qual foi uma das regras de inglês mais difíceis de ensinar / aprender?

Jami: Acho que a parte mais difícil é lembrar dos particípios passados.

Rafael: Não existe particípio passado em português. Então, é difícil. Mas é importante aprender porque em inglês é necessário. Tenho um arquivo Excel com algumas palavras que estamos comentando. E a pronúncia é difícil, mas a Jami tem me ajudado muito.

Que conversas vocês tiveram sobre questões de justiça social e situações relacionadas à pandemia que o mundo vem enfrentando?

Jami: Foram muitos os assuntos que abordamos no ano passado. Estávamos passando pela eleição presidencial nos EUA, então conversamos sobre o porquê de algumas coisas que ele ouvia ou lia, coisas que estavam aparecendo no noticiário ou mesmo a opinião sobre os EUA no Brasil. Também falamos sobre a dificuldade do que estamos vivendo agora, com a pandemia. Apesar de estarmos em países diferentes, a experiência foi muito semelhante.

Rafael: No Brasil é difícil porque muitas pessoas morrem todos os dias por causa da COVID-19. No mês passado, por exemplo, 3 mil pessoas morreram todos os dias. Em dezembro passado, a irmã da minha esposa morreu de COVID, e foi muito difícil para toda a minha família.

Jami: Conversamos muito sobre a perda que eles tiveram na família. Fiquei muito preocupada com ele e só queria ter certeza de que a família dele estava bem. Apesar de ter mudado de função recentemente, eu também trabalhava com RH na época, então pude lembrá-lo do apoio que nós, como RH, passamos aos nossos colegas. E pude simplesmente ouvi-lo e estar presente.

Como suas habilidades em inglês evoluíram ao longo deste programa?

Rafael: Antes desse programa, eu nunca tinha participado de uma reunião em inglês. Só entrava como ouvinte, mas, depois de trabalhar com a Jami, pude fazer minha primeira apresentação em inglês e participar mais de reuniões falando inglês. Faço parte do grupo de afinidade Access, voltado a colegas com deficiência, e tive que fazer uma apresentação para um grupo de colegas do Access de toda a América do Sul. Pratiquei minha apresentação com a Jami durante duas semanas. Ela ouviu e me ajudou a ajustar algumas das palavras, e foi ótimo.

Jami: Depois, tivemos uma conversa ótima pelo Slack para comemorar a primeira apresentação dele em inglês. Foi bem emocionante! E tem sido incrível ver o progresso e a confiança que o Rafael desenvolveu. Nós estamos juntos na função Pessoas, e tem horas em que vejo o Rafael responder no Slack em inglês a um dos grupos funcionais. Aí, dou um alô para ele e digo: “Muito bem”. Então, consigo ver o progresso e a confiança no fato de ele agora estar falando mais inglês e aproveitando para responder ou enviar e-mails em inglês mesmo quando poderia usar o português.

Qual é a maior lição que vocês tiraram deste programa?

Jami: A aprendizagem conjunta é uma experiência poderosa. Entrei nisso achando que iria ajudar no inglês. Eu queria agregar valor do ponto de vista do McKinsey Black Network e me envolver. Mas recebi muito mais. Conheci um colega incrível. E aprendi mais sobre o Brasil e obtive um entendimento comum sobre desenvolvimento profissional, interesses e as diferenças entre as maneiras de pensar sobre RH em nossos países. Em termos gerais, foi divertido. Rimos mais do que qualquer outra coisa.

Rafael: Esse programa do McKinsey Black Network me ajudou muito. Sou o primeiro da minha família a cursar faculdade e o primeiro da minha família a aprender inglês. Quando eu era jovem, não sabia o quanto isso era importante para o meu futuro porque meus pais não me incentivavam. Eles não sabiam o quanto isso era importante. No futuro, quando meu filho for mais velho, vou colocá-lo em uma escola de inglês e incentivá-lo a cursar faculdade também. Sei o quanto isso é importante para o futuro. E o programa do McKinsey Black Network está me ajudando muito nisso, ajudando a transformar o meu futuro.

A aprendizagem conjunta é uma experiência poderosa.

Jami Best, gerente de riscos de pessoal

A primeira fase do programa terminou em dezembro, mas a Jami e eu continuamos tendo nossas conversas semanais. Ela é mais do que uma buddy para mim. Virou minha mentora e amiga por toda a vida. E espero que outros participantes tenham uma experiência semelhante e promovam o mesmo tipo de relacionamento por meio do programa.