Voices on Infrastructure

Construindo a infraestrutura para o futuro da mobilidade

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No que diz respeito à infraestrutura, o mundo desenvolvido está andando em círculos, como um hamster em sua roda. Na Europa, nossas estimativas mostram que os governos gastam de 50% a 70% de seu orçamento de infraestrutura de transportes para manter e substituir os velhos sistemas existentes. Essas modernizações são extremamente complicadas e caras, uma vez que o tráfego precisa ser mantido – o que, às vezes, exige que sejam construídas estruturas provisórias –, e os interesses de partes envolvidas distintas – como usuários dessas infraestruturas, vizinhos, construtores e investidores – precisam ser levados em consideração.

Além disso, a grande maioria da infraestrutura de mobilidade não está pronta para o futuro da mobilidade. Automação, conectividade, eletrificação e mobilidade compartilhada já estão aí, mas as exigências da infraestrutura de estradas e ferrovias para facilitar essas tecnologias geralmente não são consideradas na hora de reconstruir projetos individuais. Em suma, não há uma visão integrada de como equipar a infraestrutura do futuro. Para criar tal visão, precisamos responder a uma longa lista de questões – por exemplo, como será fornecida a eletricidade para as estações de recarga rápida nas estradas, como forneceremos conectividade para os veículos autônomos e como gerenciaremos a integração dos sistemas de controle de trens novos e velhos.

Para se preparar para o futuro da mobilidade, os operadores precisam pular fora da roda contínua de consertos e reparos nas estruturas existentes e desenvolver um entendimento sobre onde desejam chegar, analisando fria e duramente seus modelos operacionais. Ainda, eles terão de otimizar os custos atuais, ajustar os mecanismos de financiamento, desenvolver novas competências, colaborar com os órgãos reguladores para facilitar mudanças nas políticas, cooperar com outros envolvidos em questões de infraestrutura e transformar seus modelos de gestão para quebrar os ciclos tecnológicos lentos e de reparos constantes. Aqueles que começarem agora passarão a ter um novo sistema de mobilidade moderno, com uma experiência de usuário melhor e mais rápida do que aqueles que deixarem para depois.

O que proprietários e operadores precisam fazer agora

Os operadores precisam começar a desenvolver alguns cenários prováveis descrevendo possíveis necessidades futuras. Esses cenários devem levar em consideração os desenvolvimentos tecnológicos que estão surgindo, bem como as diferentes preferências de usuários. Eles também devem destacar os benefícios econômicos esperados e esboçar uma abordagem para maximizá-los. (Para saber mais sobre a pesquisa da McKinsey a respeito de modelagem de estratégias de mobilidade nas cidades, ver “The road to seamless urban mobility.”)

Uma vez estabelecido um cenário-alvo, os operadores podem criar um plano de como torná-lo realidade. Esse plano deve trazer detalhes sobre os recursos – incluindo a P&D necessária – e possíveis opções de financiamento, além do tempo para implementação, com períodos de teste e aprovações da regulamentação pertinente. As partes do plano dedicadas à infraestrutura nova e à reconstruída devem considerar tanto as necessidades atuais como as futuras – por exemplo, dutos para cabos de eletricidade e fibra ótica para as estações de recarga de carros elétricos.

O cenário-alvo servirá de base para as operações do dia a dia dos operadores. Como as condições e a velocidade dos desenvolvimentos tecnológicos mudam com o tempo, os operadores devem atualizar regularmente o plano mestre e inseri-las em seu fluxo de trabalho para garantir que eles mantenham sua trajetória em direção ao cenário desejado.

Otimize custos e ajuste os mecanismos financeiros

Há dois métodos disponíveis para que os proprietários da infraestrutura consigam obter o capital necessário para se preparar para o futuro da mobilidade: cortar custos e repensar os mecanismos tradicionais de financiamento. Na frente de corte de custos, a área de compras é normalmente cheia de oportunidades de otimização. Os longos processos atuais tendem a envolver meses, ou mesmo anos, de análises, licitações, revisões de especificações, contratações e implantação. Se reunirem projetos menores, definirem especificações funcionais e reverem os contratos com base em desempenho, os operadores poderão acelerar o processo e melhorar substancialmente sua eficiência de custos.

Além disso, os operadores e os órgãos reguladores precisam repensar os mecanismos tradicionais de financiamento, que podem ter sido muito úteis no passado, mas hoje não conseguem mais dar suporte à transformação necessária do sistema. Por exemplo, em vez de ter regimes de financiamento e mecanismos de incentivo para despesas operacionais e de capital em separado, eles poderiam adotar uma visão integrada – capaz de criar maiores incentivos a investimentos no início do projeto, economizando dinheiro ao longo do tempo. Dada a necessidade de uma visão mais ampla, abarcando todo o sistema, e de mais longo prazo, os operadores – especialmente as entidades públicas – poderiam abandonar seus orçamentos anuais em favor de conseguirem um financiamento para diversos anos. E essa visão do sistema como um todo também deve servir de base para decisões de substituição de equipamentos, em vez de simplesmente utilizarem regras de depreciação econômica e tempo de vida útil.

Declining bus ridership: Improving the efficiency of transit networks

Desenvolva novas competências e processos

Agregar características voltadas para o futuro – como a inserção de sensores – na infraestrutura nova e reconstruída viabilizará a operação de veículos autônomos e sistemas inteligentes de controle de tráfego, dentre outras tecnologias, nos próximos anos. No entanto, essas características não estão refletidas nos ciclos de investimento e planejamento atuais da maior parte dos operadores. Hoje, os operadores geralmente planejam com base em projetos individuais, apoiados em um modelo de regulamentação relativamente estático que inclui tecnologias já aprovadas, amplamente disponíveis e de fácil implantação.

Preparar para ciclos de desenvolvimento mais rápidos e a implantação de várias plataformas integradas demandará dos operadores a aquisição de novas competências em termos de planejamento, manutenção e operação. Para adquirirem rapidamente tais competências, os operadores poderiam estabelecer parcerias com fornecedores de tecnologia não tradicionais. Eles devem também considerar criar uma unidade de negócios em separado para não precisarem passar pelos processos padrão da empresa. A Noruega criou um órgão de administração de estradas em separado para acelerar o desenvolvimento e a construção mais eficiente do ponto de vista de custos de algumas estradas selecionadas – e, com isso, o país efetivamente criou uma startup estatal para inovação em infraestrutura.

Colabore com os órgãos reguladores para facilitar as mudanças nas políticas

À medida que a tecnologia faz a mobilidade avançar, será crucial garantir que haja uma regulamentação adequada para facilitar o progresso. Além das aprovações e dos testes de segurança essenciais, a regulamentação pode levar mais de uma década para ser desenhada e implementada; já os ciclos de inovação podem virar setores inteiros de cabeça para baixo em menos de um ano. Por isso, a maior parte das regulamentações já está muito atrasada em relação ao que deveria ser. Acreditamos que a tecnologia de carros autônomos estará pronta em 2023, mas as mudanças na regulamentação levarão ainda de cinco a sete anos adicionais – o que significa que os carros autônomos não estarão totalmente integrados ao sistema de transporte até 2030. 1Automotive revolution—perspective towards 2030, janeiro de 2016, McKinsey.com.

Portanto, os operadores terão de trabalhar com os órgãos de regulamentação para adaptar os processos de aprovação e ajudá-los a entrar no mesmo ritmo acelerado do desenvolvimento tecnológico. Os operadores também podem colaborar com os órgãos reguladores, ajudando-os a pensar como poderão desenvolver suas novas competências e trabalhando em conjunto para definir os regimes futuros.

Coopere com as outras partes envolvidas em infraestrutura

Finalmente, cada nova tecnologia traz custos e benefícios para uma variedade de envolvidos, incluindo usuários e operadores da infraestrutura, órgãos reguladores e agências de financiamento. E cada uma dessas partes traz perspectivas distintas sobre como preparar a infraestrutura para o futuro da mobilidade. Por exemplo, operadores da rede ferroviária podem se beneficiar de um número menor de sinais e de equipamentos físicos nos trilhos, mas eles precisam equilibrar sua abordagem levando em conta o custo de remodelar as unidades de controles dos trens.

Para minimizar o custo e maximizar os benefícios das novas tecnologias, é preciso uma perspectiva integrada de custos, benefícios e velocidade de implementação. Espera-se que os operadores da infraestrutura de transporte – sendo um tipo de monopólio natural – sejam responsáveis por orquestrar esse processo. Também é esperado que eles deem transparência às questões socioeconômicas, tais como a forma de distribuir o custo de novas tecnologias entre diferentes usuários e como equilibrar oportunidades de maior tráfego com as exigências de redução de ruído sustentadas por vizinhos.

Transforme o modelo de gestão

Essa maior responsabilidade exige um novo modelo de gestão para os operadores de infraestrutura. Os atuais horizontes de planejamento de 30 anos ou mais precisam ser complementados por revisões mais curtas para incorporar novas tecnologias. A alocação regional da responsabilidade, que serviu bastante bem para a manutenção e mesmo para a infraestrutura recém-construída, deve ser complementada por uma responsabilidade central para as plataformas técnicas do futuro. As interdependências entre veículos e infraestrutura aumentarão; portanto, será crucial integrar usuários ao planejamento e ao desenvolvimento da estratégia. Finalmente, os proprietários terão de pensar em termos de cenários e opções para criar uma infraestrutura à prova do futuro. Enquanto praticamente qualquer um é capaz de dirigir em uma rua ou estrada, sensores ou sistemas de controle de tráfego equivocados podem rapidamente provar ser um investimento sem qualquer serventia.


Desenvolver competências, reorganizar balanços, atualizar processos – o futuro da mobilidade apresenta muitos desafios, mas é inevitável. Sendo assim, os operadores podem encarar essa transformação como uma oportunidade – e entender que o custo de esperar para colocar isso em prática é imenso. Ao se adaptarem e estabelecerem as bases de trabalho neste momento, os operadores estarão evitando uma montanha de retrabalho e retrofits muito dispendiosos e minimizando o sofrimento de todas as partes envolvidas.

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