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Quais tendências tecnológicas estão ganhando destaque na agenda empresarial?

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A concorrência global se intensificou, e a demanda de energia e poder de computação vem crescendo exponencialmente à medida que as empresas incorporam a IA, a robótica e outras tecnologias a seus processos empresariais diários. A perspectiva anual da McKinsey sobre as tendências tecnológicas aponta para 13 tendências “de fronteira” que podem ajudar as empresas a enfrentar esses e outros desafios. Neste episódio do McKinsey Podcast, os sócios seniores Lareina Yee e Sven Smit e o sócio Roger Roberts expõem os dados mais recentes e suas percepções sobre inovação, implementação, infraestrutura e confiança digitais em uma conversa com a diretora editorial global Lucia Rahilly.

O McKinsey Podcast é apresentado conjuntamente por Lucia Rahilly e Roberta Fusaro.

Esta transcrição foi editada para maior clareza e concisão.

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Temos um novo artigo no qual sete líderes da McKinsey dão conselhos aos CEOs que estão enfrentando a imprevisibilidade das regras do comércio internacional. E por falar em CEOs, nosso novo livro, A CEO of All Seasons, será lançado em 7 de outubro. Ele trata das quatro grandes etapas da trajetória de um CEO: assumir o cargo, começar com força, manter a liderança e, por fim, passar o bastão.

IA versus IA agêntica

Lucia Rahilly: Lareina, vamos começar pelo básico. Poderia diferenciar para nós a IA agêntica dos tipos de IA que vieram antes dela? Houve uma evolução, e não tenho certeza se todos compreendem as diferenças.

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Lareina Yee: Estamos nessa jornada da IA há 50, 60 anos ou mais. O que muita gente já vem usando nos negócios é a IA analítica, que é preditiva. E, nos últimos cinco ou dez anos, assistimos a um verdadeiro florescimento do aprendizado de máquina.

A IA generativa é a passagem de um modelo preditivo para um modelo probabilístico. É diferente – baseada em um grande modelo de linguagem, ou LLM. E, este ano, as pessoas têm falado bastante sobre a IA agêntica, que é outra mudança. Ela tem mais a ver com uma capacidade autônoma de realizar uma tarefa ou executar uma ação.

Pode ser algo tão simples quanto alterar a sua senha, ou tão complexo quanto trabalhar com seres humanos em vários passos.

Uma coisa que considero bem importante é que os maiores avanços para as empresas geralmente vêm do uso de múltiplas tecnologias. Elas estão usando aprendizado de máquina. Estão usando análise preditiva. Estão usando modelos probabilísticos e aquela interface intuitiva na qual você digita uma pergunta em uma ferramenta de IA generativa. Também estão usando agentes – por exemplo, em centrais de atendimento – para responder a perguntas de primeiro e segundo nível.

Então, estamos vendo tudo isso ser usado.

Lucia Rahilly: Ajude a gente a visualizar isso. Pode dar um exemplo de como você está vendo a IA ser aplicada no trabalho e o impacto que ela vem causando?

Lareina Yee: Tanto nas manchetes quanto nas pesquisas mais profundas, a IA agêntica está na mente de todo mundo. Por exemplo, você pode usar agentes para repensar um processo de pesquisa, fazendo com que eles assumam diferentes tarefas coletivamente ao longo do tempo. Ou pense no processamento de empréstimos: etapas como análise, aprovação e pontuação de risco podem ser realizadas por agentes.

Nos call centers, em vez de pedir orientações para fazer algo simples, como alterar uma senha ou vincular um cartão de crédito, um agente pode executar a tarefa diretamente. É algo que amplia muito as possibilidades de aplicação nas empresas, e é por isso que tantas estão implementando agentes e se perguntando: “E se 10% da minha equipe fosse composta por colegas de trabalho digitais? Como posso repensar o trabalho ou, pelo menos, aumentar a eficiência da execução dele?”.

A ideia de um colega de trabalho digital não é ficção científica – é algo que você pode aplicar agora mesmo.

Lareina Yee

A ideia de um colega de trabalho digital não é ficção científica – é algo que você pode aplicar agora mesmo. Não se trata apenas da implantação de software; trata-se de levar algo para a força de trabalho, de modo que se pareça mais com uma alocação de capital humano. Vejamos um exemplo. Se você tem um agente ou uma equipe de agentes, precisa fazer todo o trabalho técnico para prepará-los para ingressar na força de trabalho. Então você precisa integrá-los, treiná-los, dar feedback e descobrir como ensinar a eles formas de trabalhar e normas. Estamos só começando a explorar isso, mas já está mudando nosso modo de pensar na força de trabalho.

Onde o valor da IA está surgindo

Lucia Rahilly: Você tem visto algo interessante que ilustre a tese da geração de valor com IA agêntica?

Lareina Yee: Com certeza. Alguns exemplos mais simples: uma empresa contou que a utilizou em seu processo de vendas. Ela continua com o mesmo número de vendedores, mas observou um aumento de 11% na geração e conversão de leads. Isso é concreto. Outra empresa, no setor de varejo, contou que está usando a tecnologia para dar assessoria nas decisões de compra e na personalização – ajudando a conectar o que você talvez queira comprar com o seu histórico de compras e o que está disponível, chegando até a fazer o envio.

Todas essas são ideias iniciais, mas já estão ajudando nos desafios e objetivos empresariais tradicionais.

Lucia Rahilly: Como os líderes estão conduzindo a adoção e garantindo que seus funcionários tenham as habilidades necessárias para se beneficiar da IA em grande escala?

Lareina Yee: As pessoas estão experimentando de tudo. Uma coisa que é uma incrível lição de humildade neste momento é que estamos todos aprendendo juntos.

Uma abordagem que parece funcionar é repensar o seu negócio como nativo de IA. Permita-se perguntar: “Se eu repensar o meu negócio com essas capacidades, ele pode mudar radicalmente? Onde posso ver um valor que não poderia ter imaginado de outra forma?”. Uma decisão à parte é quanto disso você implementa.

Acho que a primeira coisa é olhar mais longe. O próximo passo é ganhar experiência com as ferramentas. Dei acesso à tecnologia à minha equipe? Eu mesmo estou usando? Estamos aprendendo à medida que avançamos, conversando com colegas e compartilhando o que está funcionando e o que não está?

E há certos fundamentos dos negócios que não saem de moda. Precisamos de casos de negócios. Precisamos priorizar áreas que farão a diferença, garantir que elas tenham recursos e aplicar os princípios básicos que sabemos serem importantes para podermos levá-las adiante. É ótimo experimentar, mas em algum momento você precisa fazer algumas apostas e investir de fato.

Lucia Rahilly: Qual é a sua opinião sobre como obter uma visão clara e embasada em dados dos riscos e começar a geri-los com sucesso?

Lareina Yee: Temos que manter os olhos e ouvidos abertos para quaisquer consequências indesejadas e riscos que podemos introduzir ao usarmos a tecnologia de maneiras novas e, às vezes, muito íntimas com as pessoas, pois estamos trabalhando lado a lado. Se você tem um colega digital entrando em um espaço de trabalho, isso é muito diferente de uma ferramenta de back end. Os líderes precisam ter a coragem de encarar o que pode dar errado.

Podemos ser bastante pragmáticos a esse respeito, sem cair no distópico.

Lucia Rahilly: Algum conselho para os líderes que recebem a incumbência de embarcar nessa transformação tão repleta de incertezas?

Lareina Yee: Acho que é um presente se você receber isso. Como líderes, temos que fazer mais perguntas e ouvir mais, em vez de afirmar e impor. Não temos muita certeza, e tudo bem.

Isso passa a fazer parte do que fazemos: atravessar a incerteza e encontrar o valor. Se eu não deixar espaço para a incerteza e não fizer as perguntas, posso perder alguma coisa. Não acho que isso precise ser algo ruim; acho que, na verdade, pode ser algo ótimo.

Também temos que nos lembrar de que somos nós que decidimos a nossa velocidade, porque tudo isto tem a ver conosco, enquanto seres humanos. Se não quisermos que a tecnologia assuma 70% das tarefas, ela não precisa assumir. A tecnologia não está nos pedindo isso. Pode ser usada como quisermos.

A próxima fronteira na robótica

Lucia Rahilly: Por que a robótica é uma das principais tendências na pesquisa este ano?

Sven Smit: Por muitos motivos. Eu, pessoalmente, tenho um joguinho chamado “encontre o robô”. Muita gente já viu robôs de limpeza, mas pouca gente esteve em um centro de logística onde os robôs sobem para pegar itens. Neste momento, alguns centros de logística estão instalando mais robôs do que contratando pessoas. Então dá para ver esse ponto de inflexão.

Também vemos uma grande quantidade de vídeos de robôs humanoides, que estão chegando e que terão sua própria versão de direção e locomoção totalmente autônomas.

Um que me fascinou pessoalmente no “encontre o robô” está no Aeroporto de Schiphol, aonde vou com frequência. Agora existe uma cadeira de rodas na qual, depois de passar pela segurança, você se senta, digita o número do seu portão, e ela o leva automaticamente até lá e depois volta sozinha.

Lucia Rahilly: Uau! As pesquisas também mostraram que a robótica adaptativa está se acelerando em setores que eu achei um tanto inesperados, como tecnologias de energia e sustentabilidade. Como isso funciona na prática? E o que significa em termos da direção que estamos tomando?

Sven Smit: No setor energético, trata-se de instalar equipamentos, o que exigirá robôs humanoides. Por exemplo, se considerarmos quase todo o trabalho manual que apresenta alguma redundância, ele poderá, com o tempo, ser robotizado de uma forma ou de outra.

O trabalho complicado – como reformar uma casa antiga, refazer a instalação elétrica ou algo semelhante em termos de energia – ainda levará tempo. Mas nesses setores também existem trabalhos padronizados que se esperaria serem a primeira parte do processo de automação.

Lucia Rahilly: Em que medida a adoção da robótica visa substituir o capital humano, como você acabou de descrever, e em que medida visa complementar ou alterar o que fazemos?

Sven Smit: Eu diria que a questão de se os robôs vão substituir o trabalho ou somar ao trabalho é quase uma escolha. O que sabemos é que, se os robôs forem suficientemente baratos, como indicam algumas estimativas, eles vão baratear certas coisas e, portanto, a demanda vai aumentar.

Uma visão clássica disso é chamada de “problema dos pedreiros”. Poderíamos substituir talvez metade dos pedreiros por pedreiros robóticos e reduzir a força de trabalho pela metade. Ou você poderia dizer: “Não, a construção de moradias e escritórios ficará tão mais barata que, ao lado de cada pedreiro atual, haverá um robô humanoide ou outra forma de robótica para ajudá-lo a construir casas maiores, melhores e em maior quantidade para mais pessoas”.

Em um mundo ideal, você ganha duas vezes, porque cada pedreiro possui um robô ou porque o robô trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Sven Smit

A habitação acessível é um problema enorme. Parece que os robôs serão baratos o suficiente para tornar certos trabalhos mais acessíveis. Assim, em vez de substituir metade dos pedreiros, cada pedreiro poderia ter seu próprio robô. Em um mundo ideal, você ganha duas vezes, porque cada pedreiro possui um robô ou porque o robô trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Os modelos de negócio mudarão a cada dia. As pessoas dizem que a direção totalmente autônoma também é um robô. Ela substitui todos os motoristas de Uber e de táxi? Talvez. Mas também poderia trazer um conjunto totalmente novo de empregos – administrar frotas de carros, limpá-los, posicioná-los, monitorar o comportamento dos passageiros, cuidar da logística, da entrega de encomendas, e assim por diante. De repente, a demanda aumenta. Acho que, muitas vezes, subestimamos a equação da demanda quando as coisas são automatizadas e ficam muito mais baratas.

Lucia Rahilly: E, no exemplo dos pedreiros, é isso que queremos dizer com “cobots”? O que são cobots e como devemos esperar que eles comecem a aparecer no local de trabalho?

Sven Smit: Sim, eu acho que cobots... As palavras e a linguagem vão se desenvolver com o tempo. O lado positivo é que toda automação, seja por meio de robôs, seja por meio de IA, é uma multiplicação da criatividade, engenhosidade e capacidade de produção humanas – o que eu acho que, em grande medida, poderia ser e sempre foi o caso.

Se pensarmos na agricultura, que passou de 100% da força de trabalho para 2%, os agricultores ficaram mais produtivos com base na automação da época – o trator e algumas outras coisas. Eu vejo dessa forma.

Lucia Rahilly: Em linhas gerais, no que os líderes devem se concentrar agora com relação à robótica, reconhecendo que a resposta depende, obviamente, do setor?

Sven Smit: Em geral, com a automação por IA e, com isso, também com a robótica, quem aprende mais rápido vence. A ideia de que você sabe exatamente como isso vai funcionar é, na minha opinião, arrogante. Mas, se você não participar, não saberá para onde isso está indo, nem quando dar escala – quando se aprofundar e quando permanecer superficial e aprender.

À medida que avançam passo a passo perguntando o que pode ser feito pela IA, as empresas precisam fazer o mesmo com a robótica: processo por processo, o que pode ser feito e quando. Quando é o momento certo para experimentar e quando é o momento certo para dar escala. No fim das contas, se você não estiver aprendendo neste espaço, vai ficar para trás.

A transição energética se acelera

Lucia Rahilly: Agora, vamos passar para outra tendência deste ano – a transição energética. A demanda de energia está aumentando, e a IA vem despontando como fator determinante. A necessidade de fornecer energia aos data centers tem sido muito comentada nas notícias. Fale por que a transição energética é uma das principais tendências tecnológicas deste ano.

Sven Smit: Costumávamos ver isso como a substituição da energia antiga pela nova energia – essa era a transição. Agora, a visão é de que, na verdade, precisamos de mais energia. Isso se deve à IA, mas também ao aumento da riqueza global.

Portanto, se estivermos em um mundo de mais energia, quase precisamos de energia além do petróleo e do gás apenas para atender à demanda. E também queremos que seja confiável, e é por isso que vemos surgir o debate sobre a energia nuclear, pois é uma forma limpa de energia adicional.

Todos estão procurando a próxima fonte de eletricidade em grande escala, estável e confiável, que terá que vir de uma combinação de tecnologias antigas e novas que possam ganhar escala muito rapidamente.

Sven Smit

Os fundamentos indicam que ela fará parte do mix. Se precisarmos do dobro da energia, já precisaremos de uma unidade de energia não proveniente do petróleo e do gás apenas para cobrir o acréscimo. Isso terá que vir da energia solar, eólica, fusão, fissão, e assim por diante.

O debate a respeito da energia, especialmente da eletricidade, vem se intensificando. A escassez de eletricidade está se aproximando rapidamente. Todos estão procurando a próxima fonte de eletricidade em grande escala, estável e confiável, que terá que vir de uma combinação de tecnologias antigas e novas que possam ganhar escala muito rapidamente.

Lucia Rahilly: Que elementos da transição energética estão, na sua visão, mais próximos de um rápido crescimento comercial?

Sven Smit: Eu diria que tudo depende do custo. A categoria que apresenta o crescimento mais rápido no momento é a energia solar, com a eólica em segundo lugar. A energia nuclear está sendo levada mais a sério. As tecnologias de armazenamento e a discussão sobre as baterias vêm a seguir.

Lucia Rahilly: E a pesquisa aponta para desafios no ganho de escala, além da tecnologia em si, inclusive necessidades referentes à cadeia de suprimentos e à infraestrutura. Onde você vê os obstáculos mais significativos ao ganho de escala?

Sven Smit: São muitíssimos. O ritmo da construção de megainstalações que está ocorrendo atualmente na China é quase semanal. E fora da China, não estamos nesse ritmo em quase nenhum lugar. Precisamos de um ritmo de construção muito mais rápido.

Então, vemos usinas antigas sendo colocadas em operação novamente. Isso só na parte das usinas. Além disso, por se tratar de eletricidade, é necessário construir mais redes. Você precisa então ter mais armazenamento ou outras maneiras de manter a confiabilidade. É um projeto de investimento que requer obras enormes, semelhantes às obras tradicionais de infraestrutura que já tivemos.

Lucia Rahilly: Você está otimista quanto à possibilidade de alcançarmos uma transição energética mais sustentável e resiliente em um horizonte temporal razoável?

Sven Smit: As pessoas estão aprendendo que a energia faz o mundo girar. Quando os seres humanos decidem construir, eles conseguem. Quando a corrida era apenas a discussão para substituir o petróleo e o gás – o que é, de certa forma, um quadro positivo para o clima, mas negativo para o mundo antigo –, você encontra resistência em toda parte. Mas, se você diz: “Bom, precisamos do dobro da quantidade de energia, e rapidamente, além de IA e eletricidade amanhã”, você entra em uma mentalidade de construção. Meu otimismo vem do fato de que estamos começando a aceitar a ideia de que o mundo precisa de um grande projeto de construção e energia. A mentalidade é muito importante.

Lidando com a necessidade de velocidade e acessibilidade econômica

Lucia Rahilly: Certo. Qual é a maior prioridade na qual os líderes devem se concentrar quando se trata da transição energética, novamente em linhas gerais?

Sven Smit: Acho que temos duas prioridades. Uma delas é aumentar a velocidade, o que apresenta problemas na cadeia de suprimentos em termos da expansão e transição energética. Mas a segunda coisa que é importantíssima é entender que não devemos aumentar de forma muito cara.

Porque a energia acessível é o que impulsionará o progresso, seja na área da IA, seja simplesmente na prosperidade humana, e assim por diante. Você pode priorizar coisas que são muito caras e pode priorizar coisas que são um pouco menos caras e que têm a possibilidade de ficar mais baratas.

Espero que estejamos construindo coisas que façam sentido economicamente no médio prazo, embora talvez precisem de subsídios no curto prazo para serem implementadas. Esperamos, porém, não construir coisas que sejam estruturalmente inviáveis versus preços baixos e acessíveis de energia. Portanto, para mim, a prioridade da construção sobre a acessibilidade econômica na busca de energia limpa é importantíssima. Você também precisa equacionar a variabilidade e a segurança.

Lucia Rahilly: Como a atual instabilidade geopolítica pode afetar a velocidade do ganho de escala?

Sven Smit: A geopolítica está fomentando o debate sobre energia entre as pessoas que desejam ter sua própria fonte de energia independente e fontes de energia dependentes. Há um grande impulso em prol da construção de fontes independentes, ao mesmo tempo em que algumas das fontes são protegidas. Portanto, a geopolítica influencia a segurança energética, mas também influencia a acessibilidade econômica da energia, porque sem energia acessível não é possível vencer a guerra da IA, o que impede a vitória na guerra da segurança.

Os semicondutores impulsionam a era da IA

Lucia Rahilly: Roger, seja bem-vindo. Vamos falar de uma das tendências deste ano que, à primeira vista, pode parecer estar um pouco menos em alta do que, por exemplo, a IA agêntica, mas que respalda grande parte do que a IA possibilita: os semicondutores específicos para uma aplicação. Vamos definir que semicondutores específicos para uma aplicação são chips criados para fins específicos, otimizados para realizar tarefas especializadas e que também oferecem grande velocidade, eficiência energética e desempenho. Gostaria muito de saber sua opinião sobre por que esses chips são importantes e por que estão se tornando cada vez mais relevantes para as empresas.

Roger Roberts: O crescimento das unidades de processamento gráfico, ou GPUs, começou simplesmente a partir de aceleradores gráficos para os PCs, que ajudavam a jogar games em tempo real. E acabou que eles eram exatamente a arquitetura de processamento certa para permitir a computação de IA a velocidades muito altas.

Isso levou a um mundo no qual a computação de IA, tanto para o treinamento de modelos quanto para a inferência, criou uma demanda de semicondutores incrível. Agora, estamos observando uma inovação contínua nesse espaço, que passa de pensar nessas GPUs apenas como uma forma genérica de fornecer computação de IA, para pensar em aplicações mais específicas.

Isso pode significar: “Oba, vou ter tipos específicos de semicondutores que podem acelerar a minha adição de processos biológicos ou a exploração do desempenho molecular dentro de uma célula”. E o que esse tipo de simulação pode fazer abre muitas novas possibilidades de terapia. Portanto, quando começamos a pensar em chips específicos para aplicações e olhamos para o futuro, ficamos entusiasmados com as possibilidades que podem vir da aceleração desses usos ou cargas de trabalho muito específicos.

Lucia Rahilly: Como você vê os desenvolvimentos, como a expansão dos data centers, afetarem o desenvolvimento de chips e, especificamente, as inovações disruptivas que podem reduzir o consumo de energia exigido pela IA?

Roger Roberts: Bem, há várias coisas a levar em conta. Uma é que os chips em si ficaram talvez mil vezes melhores nos últimos anos em capacidade de processamento – por exemplo, mais processamento por unidade de área de chip. Se eu imaginar meus chips empilhados em módulos e racks muito densos, e esses racks forem colocados dentro de um data center, isso significa que estou obtendo mais rendimento por metro quadrado ou capacidade ou volume dentro desse data center.

Isso gera uma enorme quantidade de calor. Então, começamos a nos aprofundar na física de como remover rapidamente o calor desse chip. Isso significa que estamos começando a ver inovações na tecnologia de resfriamento. Em vez de resfriar o ar removendo o calor com um fluxo de ar, passa-se a utilizar fluidos à base de água ou mesmo fluidos mais esotéricos que circulam ao redor do chip e levam o calor embora.

Isso permite aumentar a densidade, de modo que as inovações na camada do modelo permitem que ele utilize a capacidade do chip de forma mais eficiente. Podemos observar uma melhoria de mil vezes em termos de eficiência de software apenas usando os dados certos no momento certo ou exercitando partes da arquitetura de um modelo, e não toda ela, para obter um ótimo resultado. Todas essas coisas juntas estão alterando a curva da demanda de energia.

Lucia Rahilly: Que tipo de consequências devemos ter em mente, dado esse aumento de demanda de energia?

Vamos ver um crescimento significativo da demanda de energia, uma pressão significativa tanto sobre a capacidade de geração elétrica quanto sobre a capacidade de transportá-la por meio de transmissão para os data centers.

Roger Roberts

Roger Roberts: A enorme demanda de processamento de cada vez mais tokens, cada vez mais saídas generativas pelo uso da IA, irá de encontro a isso e aumentará o nosso consumo de energia. Vamos ver um crescimento significativo da demanda de energia, uma pressão significativa tanto sobre a capacidade de geração elétrica quanto sobre a capacidade de transportá-la por meio de transmissão para os data centers.

Lucia Rahilly: Como esses chips podem ser usados para melhorar o desempenho ou a eficiência em termos de custos?

Roger Roberts: Um exemplo poderia ser a robótica ou, como às vezes as pessoas dizem agora, os embodied AI agents [agentes de IA corporificados, em tradução livre]. Isso pode assumir diversas formas, mas, em última análise, a integração de vários tipos de computação de IA a esse robô significa que, de certa maneira, é preciso reunir todos os sentidos humanos.

Tenho elementos que me ajudam na compreensão da linguagem, talvez, mas também na visão, na navegação e na capacidade de me controlar de forma eficaz dentro do meu ambiente físico. O que isso significa, então, é que você pode ter diferentes chips de IA específicos para aplicações dentro desse robô, que permitem que essas várias funções se unam e sejam integradas como um todo.

Lucia Rahilly: Esse é um ótimo exemplo. Muito legal. Quais são as perspectivas com relação aos talentos no setor de semicondutores? Como está a relação entre a oferta e a demanda no que diz respeito aos talentos?

Roger Roberts: Os semicondutores são limitados por muitos fatores, como a capacidade de fabricação, nossa capacidade, às vezes, de transportá-los pelo mundo em uma cadeia de suprimentos, e também são limitados pela falta de pessoas talentosas, não apenas para projetá-los, mas também para fazer a transição para a fabricação em escala.

Existem no mundo apenas umas poucas empresas que são capazes de projetar os equipamentos ou que têm experiência em dar escala à fabricação até os níveis, a qualidade e o desempenho exigidos atualmente. Grande parte dos talentos está concentrada em poucas empresas e em poucos países. Os talentos se tornam um recurso muito precioso.

Lucia Rahilly: Sim. Especialmente se mais fabricantes de chips se mudarem para os Estados Unidos, presume-se que será necessário algum tipo de funil para o desenvolvimento de capacidades.

Roger Roberts: Com certeza. Nos EUA, à medida que perdíamos parte da nossa produção de chips para mercados e fornecedores estrangeiros, também assistimos a uma perda desses talentos pragmáticos, práticos, “mão na massa”. Temos excelentes capacidades de projeto, mas a produção em escala requer um pessoal realmente qualificado.

À medida que os fabricantes transferem suas operações para os EUA e constroem mais fábricas de classe mundial aqui, será necessária uma maior qualificação do capital humano para apoiar as pessoas que trabalham na linha de frente, aquelas que concebem e moldam os processos e práticas dentro dessas fábricas.

Desenvolvendo a confiança digital

Lucia Rahilly: Agora, vamos passar para outra dessas tendências: a confiança digital e a segurança cibernética. Dê para nós uma visão geral dessa tendência e do que está em jogo à medida que avançamos em direção à economia da IA. Como isso afeta, por exemplo, as opções para o cliente ou o apoio dos stakeholders?

Roger Roberts: Fundamentalmente, vemos a confiança como algo essencial para acelerar o movimento em direção à adoção e ao impacto da IA. Não é algo que você faz só porque um órgão regulador lhe diz para fazer, mas porque você quer gerar o maior impacto, a maior adoção, e colocar as suas inovações nas mãos do mundo.

Lucia Rahilly: O aumento da volatilidade geopolítica tem um efeito significativo nisso? Ou você considera isso um risco relativamente constante?

Roger Roberts: Todos os players do mundo que têm interesse na adoção da IA vão se preocupar com a confiança, e terão que se preocupar. Não é necessariamente preciso que haja confiança entre os países para que as empresas se preocupem com a confiança. Agora, será que seria melhor se tivéssemos mais colaboração e cooperação transnacionais para que as empresas pudessem ter um conjunto mais consistente de normas e expectativas em todo o mundo? Claro, isso permitiria que as empresas operassem com um conjunto de regras comum e mais simples em todos os lugares. Mas não vimos isso acontecer em outras áreas e, mesmo assim, fizemos muito progresso digital. Portanto, continuo otimista de que as forças econômicas nos levarão na direção certa.

Lucia Rahilly: Em que ponto as empresas estão em termos da adoção das tecnologias pertinentes que são necessárias à confiança digital, e que tipos de desafios elas podem enfrentar se não estiverem tão avançadas quanto deveriam nesse aspecto?

Todos os players do mundo que têm interesse na adoção da IA vão se preocupar com a confiança, e terão que se preocupar.

Roger Roberts

Roger Roberts: Bom, há muito que fazer porque o panorama está em constante evolução. Vamos usar como exemplo a IA agêntica e, particularmente, o comércio agêntico. Se eu administro um site, as entidades digitais que aparecem no meu site e tentam inspecionar meus produtos e preços costumavam ser chamadas de bots maliciosos.

Agora, pode ser alguém cujo agente está simplesmente buscando fazer uma possível compra. Portanto, precisamos ser capazes de diferenciar entre tráfego bom e tráfego ruim, ou bots bons e bots ruins. Isso será um desafio. Significa que esses bots terão que trazer uma autenticação, formas de tokens que permitam que o site deixe você entrar e se comporte como um ser humano no site. E o ser humano precisa confiar que o comportamento desse agente nesse site estará de acordo com as intenções e os limites que foram definidos para o comportamento desse agente.

Lucia Rahilly: Como está o panorama de talentos nessa área?

Roger Roberts: Os talentos nessa área serão um desafio e uma limitação. Vamos ter que treinar muitos talentos em comércio eletrônico de ponta para entenderem o que é necessário para criar uma boa experiência para os agentes, e não apenas uma excelente experiência do cliente no meu site.

Tenho que ajudar os agentes de comércio a percorrer o site e navegar nele. A boa notícia é que hoje eles são capazes de fazer isso de maneiras semelhantes às dos seres humanos, sem que isso exija uma reformulação completa da sua arquitetura. Por outro lado, isso não significa que o que é melhor para o modelo atual de navegação humana será o melhor para o comércio agêntico na promoção de vendas por meio de um funil de vendas e no fechamento de transações.

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