Por que é preciso aumentar a produtividade dos governos

| Relatório

O aumento dos custos e da demanda tem elevado rapidamente os gastos com serviços públicos essenciais – como educação, saúde e transporte – enquanto os países enfrentam desafios complexos como o envelhecimento da população, a desigualdade econômica e problemas crônicos de segurança. Os gastos públicos totalizam mais de um terço do PIB global, os orçamentos são rígidos e o déficit do setor público mundial chega perto dos trilhões de dólares ao ano.

Ao mesmo tempo, os governos continuam tendo dificuldades para atender às expectativas cada vez maiores dos cidadãos. A satisfação com os principais serviços estatais, tais como transporte público, escolas e saúde é menos da metade da satisfação com provedores não estatais, como, por exemplo, bancos e empresas de energia, água etc.

Os governos precisam urgentemente encontrar uma forma de produzir resultados melhores – e oferecer uma experiência mais satisfatória aos cidadãos – a um custo sustentável. Um novo estudo do MCG (McKinsey Center for Government (MCG), intitulado “Government productivity: Unlocking the $3.5 trillion opportunity”, indica que é possível alcançar esse objetivo. O estudo revela que diversos países alcançaram melhorias de produtividade bastante significativas nos últimos anos — melhorando os indicativos de segurança pública, saúde e educação e mantendo estáveis, ou até reduzindo, os gastos per capita ou por aluno nesses setores.



Se outros países conseguirem realizar as mesmas melhorias já alcançadas nesses bolsões de excelência, a redução nos gastos dos governos em todo o mundo pode chegar a US$ 3,5 trilhões por ano até 2021 – equivalente ao déficit fiscal global. Os países podem alternativamente optar por manter as despesas estáveis e, ao mesmo tempo, aumentarem a qualidade dos serviços básicos. Por exemplo, se todos os países estudados tivessem melhorado a produtividade de seus sistemas de saúde nos últimos cinco anos aos mesmos níveis das nações comparáveis que apresentaram melhor desempenho, poderiam ter acrescentado 1,4 ano à expectativa de vida saudável de suas populações. Isso se traduziria em 12 bilhões de anos de vida saudável a mais – sem nenhum gasto per capita adicional.

É fundamental encontrar uma forma de desbloquear essa oportunidade de aumento da produtividade. O desafio é que, até o momento, houve pouco progresso na mensuração da produtividade do governo — mesmo sendo a produtividade uma medida vital e bem estabelecida do desempenho de economias nacionais e de negócios do setor privado. Consequentemente, é difícil para os governos avaliarem o verdadeiro retorno de seus gastos e o debate público tende a se concentrar em como aumentar os insumos e não na qualidade dos resultados. Em geral, os governos consideram um desafio identificar oportunidades de melhoria por meio do aprendizado com outros países – ou com outras regiões ou setores dentro do mesmo país.

Para ajudar a eliminar essa lacuna, o MCG desenvolveu uma abrangente base de dados e uma metodologia de benchmarking — Government Productivity Scope — para começar a avaliar a eficiência e eficácia dos gastos públicos. O MCG aplicou a ferramenta em 42 países, que juntos representam 80% do PIB global, com foco em sete fatores: saúde, educação primária, secundária e terciária, segurança pública, transporte rodoviário e arrecadação de impostos. A pesquisa foi complementada com insights obtidos a partir de 50 entrevistas com líderes governamentais e mais de 200 estudos de caso. Este documento apresenta a primeira versão da análise do MCG, que continuaremos a ampliar e aperfeiçoar em diálogo com líderes governamentais e especialistas acadêmicos.

As conclusões iniciais apontam para diferenças expressivas na produtividade relativa dos países. Mesmo entre países comparáveis com resultados bastante semelhantes, o governo menos eficiente gasta hoje mais que o dobro por unidade de resultado do que o mais eficiente. E enquanto a maioria dos países luta para conter o crescimento dos gastos, o MCG encontrou exemplos em todos os setores de governos que reduziram os gastos por unidade e obtiveram melhores resultados.

Essas diferenças indicam uma extraordinária oportunidade para os governos impulsionarem a produtividade, economizarem dinheiro e oferecerem resultados melhores para os cidadãos. Para aproveitar essa oportunidade, no entanto, os governos precisam aprofundar suas capacidades funcionais em quatro áreas-chave: financeira, comercial, tecnologia digital/data analytics e gestão de talentos. Conforme o MCG revela, países pioneiros reformularam e fortaleceram essas funções para que elas desempenhem uma função de liderança mais estratégica visando maior eficiência e melhores resultados. Nessas áreas, os governos adotaram uma abordagem ambiciosa e estruturada para transformar a eficácia do Estado.