Redefinindo os suppy chains no novo normal

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No auge da pandemia da COVID-19, gôndolas de supermercados vazias e escassez mundial de equipamentos críticos de proteção individual colocaram os supply chains nas manchetes dos jornais. Nas diferentes indústrias, as empresas enfrentavam pouco tempo para abordar disrupções logísticas, falta de peças e materiais e oscilações repentinas na demanda. Por isso, muitas organizações precisaram renovar seus supply chains na última hora – enquanto mantinham a segurança das pessoas e seguiam as políticas governamentais voltadas a conter a disseminação do vírus.

Agora, com o início da jornada de recuperação, os líderes de supply chain estão nos contando que não têm intenção de retornar ao status quo de antes. No segundo trimestre de 2020, realizamos uma pesquisa com 60 altos executivos de supply chain de diferentes indústrias e regiões, perguntando a eles qual o impacto da pandemia em suas operações e os planos futuros para tornar os supply chains muito mais ágeis e flexíveis.

Preparando-se para realizar a mudança

A imensa maioria dos participantes da pesquisa disse que a crise havia revelado vulnerabilidades em seus supply chains e que agora eles estão trabalhando para corrigir. Por exemplo, 73% identificaram problemas em sua base de fornecedores e 75% passaram por problemas de produção e distribuição. Nas indústrias de alimentos e bens de consumo, 100% dos entrevistados tiveram problemas de produção e distribuição e 91% tiveram problemas com fornecedores.

Significativos 85% dos pesquisados tiveram dificuldades com tecnologias digitais ineficientes em seus supply chains. E, enquanto apenas pouco mais de metade dos executivos avaliaram que conseguiram gerenciar o planejamento de supply chain após a introdução abrupta do trabalho remoto, 48% disseram que as mudanças haviam desacelerado a tomada de decisão no planejamento (Quadro 1).

Quadro 1

Nosso grupo de líderes de supply chain estava amplamente alinhado nas ações que eles desejavam adotar em resposta a esses desafios: cerca de 93% dos entrevistados afirmaram que planejam aumentar o nível de resiliência em seu supply chain. Esses líderes aumentam a resiliência usando uma variedade de mecanismos, incluindo compra de matérias-primas de dois fornecedores, aumento dos estoques de produtos críticos e, em uma proporção menor, nearshoring ou regionalização dos supply chains (Quadro 2).

Quadro 2

Os entrevistados também veem uma necessidade urgente de ter um melhor controle sobre sua tecnologia de supply chain, o que será possível apenas com funcionários qualificados para usar novas ferramentas digitais em velocidade e escala. Cerca de 90% dos líderes pesquisados afirmam que planejam aumentar o número de talentos de supply chain digital em suas organizações por meio de uma combinação de requalificação interna e contratações externas. Pouco mais da metade espera mudanças permanentes em seus processos de planejamento no novo normal, como uma maior centralização das atividades de planejamento, ciclos de planejamento mais curtos e introdução de técnicas de advanced analytics. Curiosamente, apenas 11% dos entrevistados disseram que o orçamento era uma restrição para suas ambições de mudança, sugerindo que a resiliência requer investimentos inteligentes, não apenas despejar dinheiro no supply chain.

Fazendo investimentos transformadores

Para ter sucesso no novo normal, as empresas precisarão de mais que soluções improvisadas e corretivas para problemas específicos. A pandemia do coronavírus já expôs deficiências em muitas organizações e também pode provocar mudanças de longo prazo nas exigências e nos comportamentos dos clientes. Por exemplo, os consumidores que mudaram para os canais de varejo online durante a crise, ou que optaram por retirada ou coleta na loja de pedidos feitos online, podem permanecer em seu novo comportamento muito além da pandemia. O desejo de manter os benefícios ambientais que foram um resultado da atividade econômica reduzida pode levar a uma maior ênfase em sustentabilidade das operações futuras dos negócios.

Entendemos que os líderes devem aproveitar este momento não apenas para corrigir seus supply chains temporariamente, mas para transformá-los. Reimaginar os supply chains para evitar armadilhas passadas e atender necessidades futuras exigirá uma abordagem mais abrangente (Quadro3).

Quadro 3

Para satisfazer o desejo de ter maior resiliência, as empresas podem considerar a criação de funções e processos dedicados de gestão de riscos de supply chain. Trabalhando lado a lado com as funções de manufatura, compras e supply chain, essas unidades avaliam as vulnerabilidades dos polos de abastecimento e aplicam mecanismos robustos de mitigação de riscos na resposta.  As ações resultantes podem envolver a aceleração da descentralização, com o emprego de estoques mais próximos aos clientes e o desenvolvimento de planos e competências de resposta a crises.

Enquanto as atuais organizações de supply chain se concentraram mais comumente em uma pequena variedade de riscos, como atrasos de logística ou instabilidade financeira dos fornecedores, o escopo da função de gestão de riscos pode ser expandido para incluir fatores como interrupções prolongadas de fluxos internacionais ou rupturas sociais e geopolíticas. Gerenciar esses riscos exigirá investimento em melhores competências de previsão de descontinuidade dos negócios, mecanismos de transferência de riscos e planejamento para crises. A gestão dos riscos também pode gerar reconfiguração física de supply chains, especialmente para matérias-primas e componentes críticos.

De forma similar, impulsionar as competências digitais de ponta a ponta do supply chain requer uma visão coordenada dos centros para que as empresas possam ligar os pontos com as mais recentes ferramentas e competências digitais. Sistemas de planejamento autônomos com competências de machine learning podem basear suas previsões em muito mais fatores e entender o novo normal muito mais rapidamente que as abordagens tradicionais, para desenvolver a continuidade dos negócios, preservar caixa e fortalecer a resiliência do supply chain.

Em manufatura, robôs e cobots podem fornecer cada vez mais dados para sinalizar problemas ou identificar oportunidades de melhoria. Por exemplo, muitas empresas ainda fazem manutenção de rotina nos principais equipamentos seguindo um cronograma fixo, com pouca ou nenhuma visibilidade sobre a real necessidade de ação. Competências de diagnóstico digital possibilitam o monitoramento em tempo real dos equipamentos, ajudando a diminuir os custos por meio da redução de práticas desnecessárias de manutenção. Na entrega dos produtos, as empresas podem empregar práticas digitais de logística usando milhares de pontos de dados para otimizar, monitorar e otimizar novamente com dados do mundo real para soluções em tempo real.

A digitalização hoje pode empoderar empresas para extrair benefícios para o futuro. Seja por meio de previsões mais precisas, redução do tempo de paradas ou tempos de entrega e de resposta mais rápidos, a digitalização do supply chain de ponta a ponta ajudará as empresas a eliminar ineficiências, melhorar a responsividade e reduzir substancialmente os custos gerais de supply chain. A digitalização também será uma ferramenta crítica nas respostas das organizações de supply chain a desafios futuros. O novo normal pode trazer um incentivo mais forte para a sustentabilidade e um menor impacto ambiental para clientes e reguladores, já que menores níveis de poluição foram um dos desdobramentos favoráveis da diminuição da atividade.


Pode ser desafiador enxergar esses pontos positivos na esteira das rupturas causadas pelo coronavírus, mas a crise proporcionou às empresas um momento único para reimaginar as operações e criar um futuro melhor.

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